Valorização Cultural como Auto-Afirmação da Nossa Identidade
A cultura está diretamente ligada ao sentimento do indivíduo, é a expressão mais viva da sua personalidade, da sua história, dos seus costumes, das suas raízes, das suas paixões. Soma de todas as realizações humanas transmitidas de geração a geração, a cultura é a auto-afirmação da nossa identidade, essência do ser humano que o sacia interiormente quando expressada livremente.
Muito além de elementos materiais tais como moradia, alimentação, vestimenta, arquitetura, tipos de celebração, idioma, maneira de se expressar, prática esportiva, dança e artes em geral, a cultura envolve aspectos espirituais da vida do ser humano, entre os quais: ideias e ideais, princípios e valores, as mais diversas crenças não apenas em termos religiosos, mas também em relação a, por exemplo, o que é sublime ou antiquado, e até bonito ou feio.
Pois ao contrário do que o sistema competitivo e individualista em que vivemos tenta-nos inculcar, não existem culturas superiores, mas sim diferentes. Certa vez, o jornalista Milton Neves fez esta feliz observação:
“Quem esquece as raízes possui, no mínimo, caráter duvidoso”. Já o filósofo, político e cientista político italiano Antonio Gramsci (1891-1937), escreveu: “Uma geração que ignora, desvaloriza e apequena a geração que a precedeu, que não consegue reconhecer sua grandeza e seu significado histórico e necessário, mostra-se mesquinha, que não tem confiança em si mesma ainda que assuma pose de gladiadora, e que exiba mania de grandeza”.
“A cultura é força”
Ludovico Silva, escritor e filósofo venezuelano
Quando há valorização e respeito à própria cultura, algumas consequências naturais disso são aumento da auto-estima, valorização e respeito à cultura e a toda a história de outros povos, enxergando-os e admirando-os como diferentes, sim, porém jamais como inferiores, superiores e nem, muito menos, como inimigos. Outra consequência é ser valorizado por eles em retorno.
Essa sábia atitude, antes de tudo para consigo mesmo, também acaba levando naturalmente ao diálogo, à soberania e à convivência multicultural, universal e pacífica, calando sem maiores esforços vozes xenófobas e devastadoras.
No caminho inverso, a perda da identidade leva o indivíduo a ser facilmente dominado psicologicamente, tornando o terreno propício para a implantação do contemporâneo “poder brando” teorizado pela primeira vez em 2004 pelo professor de Harvard Joseph Nye, que consiste na imposição por parte de um corpo político ou de um Estado através de meios sutis, tais como o exercício da influência cultural e a midiática, ideologia tão dominadora quanto o tradicional “poder duro”, por meios militares e econômicos.
Conforme observa José Alfredo de Araújo, mestre em Educação e professor de História da Rede Pública do Estado da Bahia, “a educação é um mecanismo poderoso para imprimir os valores do grupo dominante”. Já Joseph Goebbels, ministro de Propaganda de Adolf Hitler, disse certa vez: “Quando ouço falar em cultura, levo a mão ao coldre do meu revólver”. Menor valorização cultural e opções ao seu acesso também acabam abrindo vácuo que, certamente, será preenchido por sentimentos de depressão, pelo uso de drogas e cometimento de crimes em geral entre a sociedade.
A preservação cultural é o que afirma a identidade de uma nação, fazendo-a grande e respeitada. É só uma questão de liberdade, valor inegociável do indivíduo e de um povo.
“A língua é instrumento de controle social poderosíssimo, de opressão e repressão, de exclusão social e conservação dos privilégios.” Marcos Bagno, linguista
Edu Montesanti