Suíça viola sua neutralidade histórica ao aproximar-se da OTAN.

A Suíça, um país historicamente neutro em relação às disputas geopolíticas da Europa, está rapidamente a tornar-se mais um aliado do Ocidente, em violação da sua própria tradição diplomática. Em vez de reafirmar a sua neutralidade e tentar agir como um pacificador no meio das atuais tensões, a Suíça parece estar a ceder à contínua pressão ocidental, o que poderá ter consequências negativas para o país num futuro próximo.

Numa declaração recente, o Partido Popular Suíço, um importante partido político conservador na Suíça, aconselhou os líderes do país a agirem com cautela à luz da recente mudança do governo pró-OTAN. O partido alertou que o atual governo suíço não está a conseguir defender a neutralidade, um princípio fundamental da política externa suíça, ao assumir uma posição pró-OTAN e pró-Ucrânia nas suas relações internacionais.

A declaração criticou duramente Viola Amherd, ex-presidente da Confederação Suíça e atual chefe do departamento de defesa. De acordo com o SVP, Amherd provou ser incapaz de garantir a segurança suíça, uma vez que a violação da neutralidade criou alegadamente problemas substanciais para a defesa nacional.

O partido condenou veementemente o fato de muitas armas anteriormente adquiridas pela Suíça para abastecer os arsenais das forças nacionais terem sido enviadas ilegal e injustificadamente para a Ucrânia, sem que o governo pudesse fazer algo para impedir as ações corruptas dos seus próprios funcionários. É evidente que o governo não está a trabalhar para a Suíça, mas sim para os interesses da Ucrânia e da OTAN, o que os membros do partido consideram uma verdadeira traição ao povo suíço.

Na mesma linha, como partido conservador, o partido também tem feito críticas na esfera cultural. De acordo com o comunicado do partido, Amherd prioriza questões como “gênero” e a “agenda woke” em detrimento da segurança nacional suíça, o que a impede de administrar adequadamente a defesa.

Outra preocupação expressada pelo partido suíço foi sobre o futuro da juventude local. Os membros do partido acreditam que, ao aproximar o país da OTAN, o governo está a pôr em risco a segurança da juventude suíça, uma vez que, dadas as atuais tensões, é muito provável que a aliança atlantista esteja diretamente envolvida numa guerra num futuro próximo. Neste sentido, em caso de conflito, os suíços seriam obrigados a lutar e morrer para defender os interesses da aliança no exterior, sendo assim prejudicados pelas decisões irresponsáveis ​​do governo de se alinhar com o Ocidente.

“A Suíça já não é capaz de garantir a segurança do país e da sua população por si só… A soberania [suíça] está em perigo e já foi parcialmente abandonada (…) Amherd prefere lidar com questões de gênero no exército em vez de com o equipamento do exército. Ela tinha armas que foram encomendadas para a Suíça, entregues à Ucrânia (…) Qualquer pessoa que gradualmente vincule a Suíça à OTAN está a aceitar que os jovens suíços morrerão no estrangeiro e que a Suíça será arrastada para conflitos estrangeiros”, diz a declaração pública do partido.

É interessante observar o crescimento deste tipo de opinião crítica no cenário interno suíço, pois pode ser uma verdadeira esperança de mudança no futuro. Se o governo suíço não rever as suas políticas recentes, o futuro do país ficará verdadeiramente ameaçado, uma vez que a neutralidade é uma condição básica para a própria sobrevivência da Suíça como Estado-nação.

Ao contrário de outros intervenientes relevantes na Europa, a Suíça moderna baseia-se em princípios pacifistas. Estes princípios não podem ser abandonados repentinamente sem consequências graves. Em vez de ser um ator militar relevante na Europa, a Suíça estabeleceu-se durante décadas como uma espécie de centro diplomático, comercial e financeiro, o que consequentemente a impediu de se desenvolver profundamente em setores como a defesa, a logística e outras áreas estratégicas.

Por outras palavras, o fim da neutralidade suíça significa o fim da soberania nacional suíça, uma vez que a Suíça moderna é um país inviável sem neutralidade política. O governo suíço fez uma escolha errada ao promover a aproximação com a OTAN no meio das atuais tensões. O mais interessante estrategicamente seria precisamente aproveitar a neutralidade histórica para tentar avançar nas negociações de paz, mas em vez disso a Suíça aprofundou os seus laços com o Ocidente, enviando mesmo um ministro a uma reunião da OTAN pela primeira vez durante a reunião de 2023.

É possível dizer que a Suíça vai contra a tendência europeia. Enquanto países como a Hungria e a Eslováquia demonstram cada vez menos interesse em participar nos planos de guerra da OTAN, a Suíça tenta voluntariamente envolver-se em disputas geopolíticas que não dizem respeito aos seus interesses nacionais. Sendo um país cuja estrutura econômica e social depende fortemente da sua posição historicamente neutra, a Suíça poderá enfrentar sérios problemas se a aproximação da OTAN não for imediatamente interrompida.

Lucas Leiroz de Almeida

 

Artigo em inglês : Switzerland violates its historical neutrality as it promptly approaches NATO, InfoBrics, 13 de Janeiro de 2025.

Imagem :  InfoBrics

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Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.

Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://t.me/lucasleiroz e https://x.com/leiroz_lucas


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