Subitamente o Ocidente já não consegue derrubar “regimes”
Costumava ser feito regularmente e funcionava: o Ocidente identificava um país como seu inimigo, desencadeava sua propaganda profissional contra ele, a seguir administrava uma série de sanções, esfaimando e assassinando crianças, idosos e outros grupos vulneráveis. Se o país não entrasse em colapso num prazo de meses, ou num par de anos, começaria o bombardeamento. E a nação, totalmente abalada, em sofrimento e em desordem entraria em colapso como um castelo de cartas, antes que as primeiras botas da NATO pisassem seu terreno.
Tais cenários foram reencenados, múltiplas vezes, desde a Jugoslávia até o Iraque.
Mas subitamente algo significativo aconteceu. Este horrendo desrespeito à lei, este caos, cessou; foi travado.
O Ocidente continua a utilizar as mesmas tácticas, mantém-se a aterrorizar países independentes, a assustar os povos, a derrubar o que ele define como “regimes”, mas o seu poder monstruosamente destrutivo subitamente tornou-se ineficaz.
Ele ataca e a nação atacada treme, chora, sangra, mas mantém-se de pé, orgulhosamente erecta.
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Vivemos um grande momento da história da humanidade. O imperialismo ainda não foi derrotado, mas está a perder potência como domínio mundial.
Agora temos de entender claramente o “porque”, de modo a que possamos continuar a nossa luta com ainda maior determinação, com ainda maior eficácia.
Acima de tudo, agora sabemos que o ocidente não pode combater. Pode gastar triliões em “defesa”, pode construir bombas nucleares, “mísseis inteligentes” e aviões de guerra estratégicos. Mas é demasiado cobarde, demasiado mimado para arriscar as vidas dos seus soldados. Ele ou mata remotamente ou através da utilização de mercenários regionais. Sempre que se torna evidente a necessidade das suas tropas, recua.
Em segundo lugar, ele, o Ocidente, está totalmente horrorizado perante o facto de que agora existem dois países super-potência – China e Rússia – os quais estão relutantes em abandonar os seus aliados. Washington e Londres fazem tudo o que podem para enlamear a Rússia e intimidar a China. A Rússia está a ser provocada continuamente: pela propaganda, pelas bases militares, sanções e pelas novas e cada vez mais bizarras invenções dos mass media que as pintam como o vilão em todas as circunstâncias imagináveis. A China tem sido provocada praticamente e de modo insano em todas as frentes – desde a Formosa, Hong Kong, Tibete e na assim chamada “questão uighur”, até no comércio.
Qualquer estratégia que possa enfraquecer estes países é aplicada. Mas a Rússia e a China não sucumbem. Não se rendem. E não abandonam os seus amigos. Estão, ao invés, a construir grandes ferrovias na África e na Ásia, educam pessoas de quase todos os países pobres e desesperados, e apoiam aqueles que estão a ser aterrorizados pela América do Norte e pela Europa.
Em terceiro lugar, todos os países do mundo agora estão claramente conscientes do que lhes aconteceria se abandonassem e se “libertassem” do império ocidental. O Iraque, as Honduras, a Indonésia, a Líbia e o Afeganistão são os “melhores” exemplos. Ao submeterem-se ao ocidente, os países não podem esperar senão a miséria, o colapso absoluto e a extracção implacável dos seus recursos. O país mais pobre da Ásia – o Afeganistão – está totalmente afundado sob a ocupação da NATO.
O sofrimento e a dor do povo afegão e iraquiano é muito bem conhecido pelos cidadãos do Irão e da Venezuela. Eles não desistem, porque não importa quão dura seja a sua vida sob sanções e o terror administrado pelo Ocidente, estão bem conscientes do facto de que as coisas podiam ficar pior, muito pior, se os seus países fossem ocupados e governados pelos maníacos injectados por Washington e Londres.
E todos sabem o destino do povo que vive na Palestina ou no alto das Golã, lugares invadidos pelo mais estreito aliado do Ocidente no Médio Oriente, Israel.
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É claro que há outras razões porque o ocidente não consegue por de joelhos os seus adversários.
Uma delas é que os mais resilientes são deixados em paz. A Rússia, Cuba, China, Coreia do Norte (RPDC), Irão, Síria e Venezuela não vão fugir do campo de batalha. Trata-se de países que já perderam milhares, milhões, mesmo dezenas de milhões de pessoas, no combate contra o imperialismo e o colonialismo ocidental.
Se alguém acompanhar cuidadosamente os mais recentes ataques do Ocidente, o cenário é patético, quase grotesco: Washington e muitas vezes também a UE fazem grandes esforços, golpeiam, gastam milhares de milhões de dólares, utilizando os mercenários locais (que apodam de “oposição local”, depois retiram-se rapidamente após uma derrota miserável, mas expectável. Até agora a Venezuela tem sobrevivido. A Síria sobreviveu. O Irão sobreviveu. A China luta contra horríveis subversões apoiadas pelo Ocidente, mas sobrevive altivamente. A Rússia mantém-se sempre de pé.
Isto é um momento tremendo na história humana. Pela primeira vez, o imperialismo ocidental não só está a ser derrotado, mas plenamente desvelado e humilhado. Muitos agora riem-se dele, abertamente.
Mas não deveríamos celebrar, ainda. Deveríamos entender o que e porque isto está a acontecer, e então continuar a combater. Há muitas e muitas batalhas pela frente. Mas estamos no caminho certo.
Que tentem. Sabemos como combater. Sabemos como prevalecer. Já combatemos o fascismo, sob muitas das suas formas. Sabemos o que é a liberdade. A sua “liberdade” não é a nossa liberdade. Aquilo a que eles chamam “democracia” não é o modo como queremos que o nosso povo governe e seja governado. Deixem-nos partir, nós, o nosso povo, não os queremos!
Eles não podem derrubar os nossos sistemas, precisamente porque são nossos! Sistemas que queremos, que o nosso povo quer; sistemas pelos quais estamos prontos a combater e a morrer!
Este artigo foi publicado originalmente na New Eastern Outlook.