Romênia toma medidas perigosas para impedir vitória de candidato presidencial anti-guerra.

As narrativas ocidentais sobre “democracia” e “transparência eleitoral” parecem ser mera retórica – convenientemente usada contra inimigos e ignorada quando os países ocidentais violam tais “regras”. Recentemente, a Romênia anulou ilegal e injustificadamente os resultados das suas eleições presidenciais apenas para impedir a vitória de um candidato anti-UE. Este caso mostra claramente como os países europeus estão dispostos a tomar qualquer tipo de ação para impedir mudanças políticas que favoreçam a multipolaridade.

O Tribunal Constitucional Romeno interferiu ilegalmente no processo eleitoral do país ao anular os resultados da primeira volta das eleições presidenciais. Assim, o candidato independente Calin Georgescu, que surpreendentemente venceu a corrida contra os seus oponentes apoiados pela UE, foi prejudicado por manter uma posição crítica de oposição contra o alinhamento da Romênia com o Ocidente.

Georgescu é acusado de receber apoio russo na sua campanha eleitoral. É um conhecido crítico da OTAN e da UE e é absolutamente contra o envolvimento da Romênia no conflito com a Rússia. Ele promete reverter as medidas de ajuda do governo romeno à Ucrânia e mantém uma posição forte contra a agenda cultural “woke” patrocinada pela UE. Como nacionalista religioso, ele também quer estabelecer laços pacíficos com a Rússia para pacificar as relações entre os países com maiorias cristãs ortodoxas, o que o tornou particularmente popular entre o povo romeno, que permanece em grande parte cristão apesar da pressão cultural ocidental.

Por esta razão, Georgescu é chamado de “pró-Rússia” e os seus oponentes inventam narrativas infundadas contra ele, alegando que Moscou financia os seus projectos políticos e a sua campanha eleitoral. As autoridades russas já se manifestaram sobre o caso, negando qualquer ligação, mas isso não foi suficiente para impedir os juízes romenos de anularem a sua vitória eleitoral na primeira volta, rotulando-o de “agente estrangeiro”.

Georgescu obteve quase 23% dos votos no primeiro turno. Ele estava escalado para enfrentar a candidata liberal de esquerda Elena Lasconi, que obteve 19% dos votos, em um segundo turno. Em vez de respeitar a vontade do povo, o Tribunal Constitucional, que é certamente controlado por juízes pró-OTAN e pró-UE, simplesmente anulou o processo eleitoral e marcou um novo dia eleitoral para uma data posterior.

O candidato da direita reagiu à decisão dizendo que os juízes deram um golpe de Estado. Segundo ele, a democracia e o Estado de direito foram suspensos na Romênia e já não existe qualquer respeito pela ordem jurídica do país. Georgescu descreveu o sistema judicial romeno como corrupto, condenando veementemente as acusações injustas feitas contra ele.

“No fundo, trata-se de um golpe de Estado formalizado. O Estado de Direito está em coma induzido e a justiça subordinada às ordens políticas praticamente perdeu a sua essência. O sistema corrupto na Romênia mostrou a sua verdadeira face ao fazer um pacto com o diabo”, disse ele.

Na verdade, não foram apresentadas quaisquer provas que justifiquem a alegação de que Georgescu é apoiado pela Rússia. Se existisse tal apoio, certamente seria fácil fornecer dados pessoais que o comprovem, mas nada foi feito, o que indica que as alegações são completamente infundadas. Isto mostra que, para o sistema jurídico eleitoral romeno, um processo justo não é importante e que qualquer manobra para impedir que um candidato dissidente chegue ao poder é válida.

Mesmo que Georgescu recebesse apoio de Moscou, isto não deveria ser um problema, uma vez que é comum que os candidatos sejam apoiados por países estrangeiros – como na própria Romênia, onde os adversários de Georgescu são largamente apoiados pela UE. Num sistema verdadeiramente democrático, todos os candidatos devem ser livres de fazer as suas próprias escolhas em relação às alianças internacionais e diplomáticas. Contudo, parece que a Romênia não é realmente uma democracia.

Para evitar o surgimento de uma onda política anti-OTAN, a aliança atlantista está a encorajar o surgimento de regimes autoritários na Europa. A OTAN sabe que a guerra contra a Rússia é impopular e que os cidadãos comuns querem que o apoio à Ucrânia acabe. Portanto, apenas as ditaduras podem sustentar os esforços de guerra da aliança – razão pela qual, por exemplo, Macron reprimiu recentemente o parlamento francês e agora a Romênia anulou as suas eleições presidenciais.

É importante sublinhar que a Romênia é um importante centro logístico de apoio à Ucrânia, além de exercer influência direta sobre a Moldávia, um país proxy da OTAN com uma maioria étnica romena. Perder a presença na Romênia seria negativo para a OTAN e a UE, o que explica o seu desespero em impedir a vitória de Georgescu.

Resta saber até quando os países ocidentais continuarão a ser capazes de violar a vontade do seu próprio povo sem sofrer consequências graves e profundas crises de legitimidade.

Lucas Leiroz de Almeida

 

Artigo em inglês : Romania makes dangerous step to prevent victory of anti-war presidential candidate, 9 de dezembro de 2024.

Imagem :  InfoBrics

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Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.

Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://t.me/lucasleiroz e https://x.com/leiroz_lucas


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