Intervenção Militar no Rio: ‘Laboratório para o Brasil’?

As revistinhas distribuídas pelos oficiais das Forças Armadas no estado do Rio a crianças, desde os primeiros dias da intervenção, cuja capa traz um monstro vermelho (o “perigo vermelho”) tentando devorar um menino branco e loiro protegido por dois militares, tem tudo a ver com o assassinato brutal com quatro tiros da ativista pelos direitos humanos e vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSoL), 38, no último dia 14, quando retornava de um encontro de mulehres negras para discutir engajamento social contra abusos do Estado e de uma sociedade brasileira altíssimamente discriminatória, especiamente contra etnias negras e indígenas, e classes menos favorecidas. Agressividade rara, difíicil de se encontrar mundo afora.
Tanto quanto não supreende que nas primeiras horas pós-assassinato nas redes sociais os raivosaos e ignorantes reaças tupiniuins, os mesmos que berram por linha-dura contra a violência, neste caso tenham se prestado a inverter papeis (repetindo suas práticas constantes) com requintes de piada para, aos poucos, substituir mais este trágico episódio nacional – crime político não ocorria no Patropi há 35 anos – por vídeos, por exemplo, de Ronald Golias a fim de distrair seus macacos de auditório com gargalhadas enquanto, ressalte-se, esses mesmos imbecis palram favoravelmente à intervenção, alegando (erronamente) que o grande problema do Brasil é segurança pública (mais uma vez, invertendo papeis ao fazer do efeito a causa dos problemas de um País falido, intelectual e moralmente).

Sectários! Covardes! Cínicos! Crueis! Histéricos! Ignorantes! Psicopatas! Sofrem da patologia do poder! Tal abordagem, retrata perfeitamente a estatura intelectual e moral da ala reacionária deste País!

E agora, que a negra e pobre Marielle da favela da Maré foi cruelmente morta, onde está a Primavera, Brasil? Onde está a indignação raivosa neste momento, MBL, Vem prá Rua, FIESP, bolsonaristas, crentes gospel-evangélicos & cia? Não há manifetsação popular para “essa gente” da classe e etnia da Marielle, tanto quanto não há para os crimes cometidos por gente como Michel Temer, Aécio Neves, Geraldo Alckmin & cia, pelo proprio enriquecimento meteórico da família Bolsonaro uma vez na política, nem sequer pelas forças de um Estado profundamente opressor e corrupto. Vergonha! Mas neste país, os canalhas se atraem. “Indignação”, sempre desavergonhadamente seletiva em uma sociedade altamente discriminadora em todos os degmentos.
“Quem pode manda, quem tem juízo obedece”: é essa patética máxima histórica que tem sido imposta dia a dia à sociedade pelo Estado e pela própria sociedade, indisfarçavelmente tentando ser levada às últimas consequências nestes sombrios dias brasileiros. É esse raciocínio encrustrado na alma do brasileiro, perpétua mentalidade escravocrata, que torna barbáries como contra a Marielle mais “aceitáveis”.
Guerra Declarada contra o Povo por um Estado Canalha e Classes Dominantes Devastadoras
As balas usadas no crime que assassinou também o motorista Ândesron Gomes (39), cometido exatamente um mês após a ocupação militar na “Cidade Maravilhosa”, um dos paraísos da bandidagem institucionalizada deste País, advieram da Polícia Federal (PF) em 2006. Compradas pela equipe oficial de Brasília, os criminosos muito provavelmente as obtiveram, deireta ou indiretamente, através da corrupção na PF. A arma, permitia atirar 20 balas por segundo (!).
Marielle não reagiu ao ataque, e nada foi roubado, o que reforça a tese de execução sumária – os próprios assassinos que utilizaram dois carros para a emboscada, tiveram o cuidado de executar o crime em um local mais escuro, sem câmeras de vigilância e em local com várias saídas à cidade para veículos, o que, no primeiro caso, apenas pode ser do conhecimento de funcionários da segurança pública, funcionários públicos, ou de indivíduos que tenham tido íntimo contato com estes para ter o cuidado de se prevenir desta maneira.
Quatro dias antes da execução, Marielle havia publicado em sua rede social uma nota repudiando o 41º Batalhão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, na qual, segundo ela, policiais jogaram dois garotos em um rio após tê-los assassinado. Tal Batalhão é o mais violento do estado, e amplamente conhecido na vizinhança e nas favelas da Zona Norte carioca como antro de bandidos fardados, especialistas em abusos contra inocentes (pobres e negros), execuções e torturas de massas (pobres e negras) desarmadas.
Embora a grande mídia de idiotiação em massa brasileira tenha exibido pós-assassinato uma Marielle ativista por luta abstrata, por uma paz genérica deslocando sua causa do contexto étnico, político e classista – causas que levaram a mulher negra da favela do Rio à morte -, este crime tem muito o que revelar sobre a assustadora realidade do Brasil. “O assassinato da Marielle é uma tentativa de atemorizar a esquerda brasileira”, diz o historiador Vitor Schincariol.
A guerra é também ideológica, por parte dos mesmos ignorantes travestidos de “não-ideológicos”, os “apolíticos”, tão “patriotas”. Apenas um perfeito idiota para permitir ter os miolos pautados por essa gente, convenhamos! Respiram Rede Globo, engolem Veja, têm Folha encrustrada nos neurônios, vomitam Silvio Santos, urinam Gentilli, arrotam Jovem Pan, defecam Estadão e, elitistas por excelência, fieis seguidores de um bando de jornalistinhas afrescalhados, cínjcos politiqueiros disfarçados que atuam muito mais como publicitários do 1% do topo da pirâmide, bebem diariamente o sangue de cidadãos inocentes, dos verdadeiros pacifistas e patriotas brasileiros como Marielle.
Diante da profunda diversidade literária nas livrarias e bancas de jornal, sobretudo da era de relativa revolução da informação através da Intenet, essa gente melancólica, para dizer o mínimo, dona de desavergonhada indignação seletiva e incapaz de demonstrar o mínimo de autonomia reflexiva, de possuir visão de mundo que ultrapasse as respectivas polegadas da TV local, tem subterfúgio cada vez menos legítimo ao apresentar escusas pela escravidão mental.
Portanto, cúmplices de um Estado canalha, desta sucessão diária do terrorismo de Estado brasileiro. São os medíocres citados pelo poeta Sérgio Vaz, que não fazem nada para mudar a própria vida, mas se aborrecem profundamente quando você dá um passo à frente na sua:
“O medíocre é aquele que não faz nada para mudar a própria vida, mas se incomoda com a mudança que você faz na sua. Um bom medíocre sabe tudo sobre nada, discorda sempre do óbvio. É oco, insípido e inodoro. Na sua pequenez, não conhece o sabor da derrota nem da vitória. Braços cruzados, posição predileta. A mediocridade é amiga íntima da inveja, outro sentimento profundo.”
A vereadora e ativista costumava denunciar os graves crimes dos órgãos de segurança públicos contra residentes de favelas da mesma cidade que os militares, hoje, alegam defender; duas semanas antes de ser morta, Marielle tomou parte em uma comissão para analisar a intervenção militar do golpista – informandte da CIA no Brasil segundo cabos secretos liberados por WikiLeaks. Ela mesma, logo, passou a denunciar abusos.
Marielle não foi roubada nem reagiu aos tiros, levados por trás, o que muito provavelmente caracteriza execução sumária. Por isso tudo, somado a suas origens, não merece a mesma indignação da “nata” intelectual e moral, os bonequinhos e papel e bibelôs em geral deste país hipócrita!
Acima da Lei, Acima do Bem e do Mal: A Patologia do Poder
Ao mesmo tempo, o comandante das Forças Armadas, Eduardo Villas Bôas, disse em encontro oficial de 19 de fevereiro que a intervenção no estado fluminense requer “garantias” a fim de se evitar uma nova “Comissão da Verdade”: os usurpadores do poder patologicamente saindo do armário, indecentemente acima da lei, criminosamente acima do bem e do mal. Sem vergonha, e sem o menor peso na consciência.
Segundo o professor doutor Schincariol, docente da Universidade Federal do ABC (UFABC) de São Paulo, o impedimento de Dilma Rousseff em 2016 “não foi suficiente para evitar a continuidade das mobilizaçoes das forças progressistas no País, sob diferentes formas democráticas, com suas legítimas exigências de igualdade de direitos entre brancos e negros, mulheres e homens, etc”.
O renomado historiador explica que as forças de direita estão conscientes disso, de maneira que tentam brecar as organizações populares. “Desta maneira, as máfias das forças de direita juntamente com as forças imperialistas, estão disputando um jogo crescentemente perigoso,o qual possui como efeito lógico o questionamento das formas tradicionais de oganizações democráticas pela própria esquerda, e sua substituição por outras mais radicais”.
O pesquisador tem total razão, e era previsível a essas forças mafiosas que haveria certo grau de insatisfação popular inclusive pelo caos econômico que também era certo quando o golpista Temer assumiu a Presidência, daí a consideração, pelos porões do poder, de um novo golpe militar muito antes do que a maioria dos desavisados brasileiros andam se apercebendo.
Contra Números e Fatos, Não Há Argumentos
Dados de 15 de março, exatamente há um mês da ocupação militar do Rio, baseados em estudos da imprensa e de canais da Polícia Militar do Estado do Rio, revelaram que 149 assassinatos a tiros foram cometidos no período de 30 dias desde 17 de fevereiro, contra 126 entre 15 de janeiro e 16 de fevereiro deste ano. Os tiros na presença de oficiais da segurança representaram 133 do total do último mês (sob intervenção militar), contra 106 do perído de 30 dias anterior (sem intervenção).
Em setembro de 2017, 48% da população brasileira apoiava novo golpe militar no Brasil, número considerável; desta vez, 74% apoiam a intervenção do Rio, “laboratório para o Brasil” segundo o general Braga Neto, interventor do Rio – claramente, mais uma insinuação por parte dos militares de que militarização nacional está na agenda do dia. Quem lia os principais jornais nacionais (porta-vozes dos donos do poder) durante a “Primavera” tupiniquim de 2013, podia perceber de maneira muito evidente um novo golpe latente. E uma sociedade, para não perder o costume, completamente alienada, assustadoramente retrógrada.
Se ditadura de qualquer espécie solucionasse os problemas de uma nação, estes mesmos elementos não estariam agora, como sempre estiveram, aliás, clamando po retorno a um regime de ficou 21 anos no poder e, quando em tese se foi, evidenciou que repressão apenas abafou e acirrou os problemas e a pressão, cuja panela tem seu apito soando cada vez mais descontroladamente, tentando alertar uma sociedade que insiste em fazer do efeito a causa dos problemas.
‘Esquerda’: Excessiva Agressividade Evidencia Sua Fragilidade
Como o Partido dos Trabalhadores formou, mal e porcamente, consumidores mas fez questão de “se prevenir” não formando cidadãos, aí está ele, provando uma vez mais de seu veneno: vê- se ilhado, diante de uma sociedade completamente alienada, sem capacidade de reação – e até mesmo sem a menor noção do que anda ocorrendo no País hoje [pelo que grande parte da mídia autoproclamada “alternativa” do Brasil é, igualmente, (ir)responsável ao praticar o mesmo antijoralismo da grande mídia, apenas pendendo para o outro lado da balança politiqueira conforme será detalhado mais adiante].
Não só o PT, mas uma folclórica “esquerda” completamente sectária, dessituada vê-se hoje sem subsídios para se engajar contra este crescentemente agressivo avanço reacionário.
O professor Schincariol observa que “dadas as disparidades existentes entre a direita e a esquerda no que diz respeito às capacidades militares, provocar uma guerra civil aberta é o objetivo em nome das forças reacionárias. A combinação das políticas econômicas ortodoxas com a eliminação física de militantes de esquerda agora, nas áreas mais populosas do Brasil, pode lançar uma guerra civil a médio prazo”. E acrescenta: “Isso justificaria o uso das forças militares pelo Estado. É o novo cenário em que vivemos, e as forças democráticas deveriam estar muito preocupadas com isso”.
Desde à vésperas da cassação do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, a “esquerda” tupinica palrava: “Não vai ter golpe! Vamos ocupar o Brasil!”. E esse discurso tragicômico, que não enganava nem os mais ingênuos, seguiu-se a cada fatídico episódio desde que, sim, Dilma caiu e Temer assumiu o poder – passando por todas as medidas aprovadas contra o povo, até a condenação do ex-presidente Luiz Inácio.
O que a “esquerda” tem sido capaz de oferecer é, de PT a PCB, um discurso que apela à violência extrema e indiscriminada – mais uma evidência de sua fraqueza, intelectual e moral, e física também pois estes mesmos personagens e seus respectivos setores não são capazes de nada além de esporádicas e efemeras manifestações com seus cafonas trios elétricos, e bandeiras de partidos e sindicatos. Além de ter como “grande” e único projeto de Brasil, é claro, a retomada do poder via eleitoral.
Luiz Inácio, que chegou ao extremo cinismo de oferecer perdão aos líderes do golpe contra seu próprio partido no final do ano passado, e posar abraçado em campanha eleitoral com nada menos que Renan Calheiros em Alagoas no mesmo período, hoje esboça uma “carta para a esquerda brasileira”. (A mídia “alternativa” que acompanhou religiosamente as caravanas do lulinha paz e amor à época, acabou “pulando” o abraço com Calheiros, não noticiando o… “fato”).
Tanto quanto os idiotas do MBL andam impondo retumbantes derrotas nos “debates” de péssimo gosto com lideranças de “esquerda” do noso País, muito mais pela fragilidade e “contadições” (i.e., cinismo e excessivo oportunismo) destas que por méritos intelectuais daquele, tudo indica que os motivos de preocupação apontados pelo docente da UFABC não devem surtir efeitos práticos, seja porque a inérica e interesses político-partidários já estão no DNA dos militantes de “esquerda”, seja porque já é tarde demais para despertar e tomar atitudes de modo que um novo golpe militar – o qual este autor vem prognosticando convictamente no deserto desde a “Primavera” de junho de 2013 – deve encontrar cenário bem semelhante ao de 1º de abril de 1964, quando em nome de Revolução Democrática os militares golpistas encontararam nas ruas desertas nada mais que pássaros cantando, para impor um regime de terror de 21 anos.
Crimes de lesa-humanidade jamais punidos, e já dizia o jurista argentino Nicolás Avellaneda (1837-1885): “Povo que esquece seu passado, está condenado a vivê-lo novamente”. O mesmo Luiz Inácio hoje desesperado, recusou-se a mover uma palha que fosse para revogar a Lei de Anistia aos militares. Alguém ao menos se lembra que o dito-cujo disse, em seu primeiro mandato como presidente, no alto de seu pedestal ao se fechar a vozes alternativas (acusadas pelo PT de “esquerda radical”), que “passado é passado”, ou seja, esqueçamos os crimes dos militares?
Neste vídeo, antes de se tornar presidente Luiz Inácio, usando e abusando da cara-de-pau, critica a posição da “esquerda” brasileira sobre o regime militar falando como se a primeira lhe fosse um agrupamento estranho, distante, enquanto enaltece o segundo que nos idos dos anos de 1970 o prendeu e torturou, assim como fez com Dilma além de ter sequestrado e assassinado outros tantos camaradas seus… de direita?
Com os militares o líder petista aliou-se fraternalmente, chegando até a elogiar o regime militar contrariando, assim, toda a América Latina que puniu seus ex-ditadores, e as recomendações de todos os organismos internacionais que exigiam julgamento. Pois é…
Mas a célebre frase viria mesmo durante a ressaca da vitória eleitoral, em dezembro de 2006. Aos apreciadores de teorias políticas, aqui vai:

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) arrancou, na noite desta segunda-feira, risos e aplausos de uma platéia formada por empresários e intelectuais ao, de certa forma, desmerecer a esquerda brasileira. Segundo ele, trata-se de uma ideologia típica da juventude.

“‘Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema’ [risos e aplausos]. ‘Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problema’, afirmou o presidente depois de receber o prêmio ‘Brasileiro do Ano’ da revista IstoÉ.

“Lula explicou que, em sua opinião, as pessoas responsáveis tendem a, conforme amadurecem, abrir mão de suas convicções radicais para alcançar uma confluência. Tal fenômeno ele classificou de ‘evolução da espécie humana’.

“‘Quem é mais de direita vai ficando mais de centro, e quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. As coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos, e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito'”.

Em um país sem memória, sem verdade e sem justiça, e sem vontade política de nenhum lado neste sentido, logo a morte brutal de Marielle também cairá no esquecimento geral, e nada mudará no Brasil – a não ser à extrema-direita, única mudança que parece factível neste momento sombrio.
Em epítome: alguém duvida que, uma vez livre da cadeia ou se necessário fosse para se safar dela, Luiz Inácio se “esqueceria” novamente que é de “esquerda”, rasgaria essa tal “carta à esquerda”, e não hesitaria sequer por um instante em aliar-se às velhas oligarquias nacionais, as mesmas que assassinaram Marielle agora, como fez por 13 anos continuando no segundo semestre do ano passado?
Por isso tudo, a “esquerda” nacional e o partido que tenta se impor como sua porta-voz, o PT, são presas muito fáceis das imensuravelmente medíocres forças reacionárias brasileiras.
Brasil, mostra a tua cara!
Edu Montesanti

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