III Guerra Mundial como Estratégia Imperialista
Pouco depois do anúncio do aumento em defesa, em 4 de abril o novo inquilino da Casa Branca cortou o financiamento dos Estados Unidos junto ao Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês), em favor da redução das desigualdades sociais em todo o mundo, especialmente dos setores mais vulneráveis como mulheres e crianças.
Procurada em uma conversa particular com este autor logo que Trump vencera as eleições presidenciais em novembro do ano passado, a líder da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RAWA, na sigla em inglês) que se identifica apenas como Friba para sua segurança, já que a RAWA atua na clandestinidade, demonstrava desconfiança total em relação ao presidente eleito nos EUA pois, segundo a ativista afegã pelos direitos humanos, “o presidente dos Estados Unidos tem pouco ou nenhum efeito sobre a política externa do país, especialmente nos países que ocupa hoje. A administração Obama não era diferente de George Bush, e Trump não será diferente de ambos os presidentes”.
Friba, quem garante que a Operação Liberdade Duradoura dos Estados Unidos no Afeganistão “causa um 11 de Setembro todos os dias” em seu país, ressaltou diversas vezes na conversa particular que Trump seria, assim como todos os inquilinos da Casa Branca, mero instrumento de um sistema imperialista. “Nenhum presidente dos Estados Unidos tem autoridade real, mas todas as políticas são estabelecidas pelas grandes corporações, pela CIA, pelo Pentágono e pelos chefes do Exército. O presidente é apenas um boneco em suas mãos. Não é uma questão de escolha de Trump nem de qualquer outro presidente dos Estados Unidos suspender a guerra”.
À época Friba não apenas previa que Trump aumentaria a intensidade da guerra em seu pais, como também na própria Síria, no Iraque e na Líbia. “O Afeganistão não verá nenhuma mudança positiva, e o sírios, iraquianos e líbios sofrerão ainda mais”. Pois não tardou sequer uma semana para que a voz afegã, conhecedora como poucas das “intervenções humanitárias” dos Estados Unidos, se mostrasse, desgraçadamente, certeira.
Logo em seu primeiro final de semana, Trump mostrou a que veio através de dois ataques com drones no Iêmen, que matou dez pessoas: um atingiu três pessoas em uma moto, e o outro atingiu sete pessoas que se moviam dentro de um carro. Uma semana depois da posse, Trump lamentou a morte de um Seal da Marinha dos Estados Unidos em um ataque ordenado pessoalmente por ele no sul do Iêmen. Trump não mencionou as 30 pessoas, incluindo ao menos dez mulheres e crianças, mortas pelos bombardeiros de seu Exército. O ataque causou graves danos a um centro de saúde, a uma escola e a uma mesquita.
“Quase mil mortes de não combatentes já foram registradas devido a ações da coalizão em todo o Iraque e na Síria em março – um registro recorde”, de acordo com aAirwars, organização não-governamental que monitora vítimas civis de ataques aéreos no Oriente Médio.
Apenas na segunda quinzena de março contabilizaram-se nada menos que 300 mortes de civis no Oriente Médio, vítimas dos bombardeios norte-americanos. Na Síria foram 100: ao menos 47 pessoas morreram em uma mesquita em Aleppo; 20 mortes vítimas de bombardeios sobre casas, uma escola e um hospital em Tabqah; e pelo menos 33 mortos em uma escola que abrigava 50 famílias deslocadas pelos combates, perto de Raqqa. Em Mosul, foram 200 “baixas civis” (eufemismo para assassinato), vítimas do “efeito colateral” (crime de guerra) das “bombas inteligentes” (enriquecedoras da indústria bélica em nome dos interesses econômicos e estratégicos) dos Estados Unidos.
Segundo relatório da Anistia Internacional, as forças da coalizão têm se utilizado de fósforo branco em Mosul, arma química que rasga o corpo do individuo vivo, e queima até os ossos. A revista norte-americana relatou recent
Abu Ayman, residente em Mosul, disse à Reuters que viu várias casas demolidas e os corpos de seus moradores cortados, espalhados. “Corri para a casa do meu vizinho e, com outros cidadãos, conseguimos resgatar três pessoas, mas pelo menos outras 27 na mesma casa foram mortas incluindo mulheres e crianças de parentes que haviam fugido de outros distritos”, disse ele. “Nós tiramos alguns do meio dos escombros usando martelos e pás para remover detritos. Não podíamos fazer nada para ajudar os outros, pois estavam completamente enterrados sob o telhado desmoronado”. Um outro morador de Mosul disse: “Agora, parece que a coalizão está matando mais pessoas do que o Estado Islamita”.
Friba foi procurada novamente após os ataques dos EUA à base aérea síria no último dia 7. “Sem guerra, a superpotência não pode durar muito tempo nem superar a crise financeira doméstica. É a guerra que gira as rodas do seu sistema econômico”, afirmou indignada a líder da RAWA. “Quem se senta na Casa Branca serve o 1% dos poderes corporativos, o que significa espalhar a guerra por todo o mundo para pilhar petróleo e matérias-primas de nações pobres, mantendo a hegemonia dos Estados Unidos e derrotando seus rivais”.
Marjorie Cohn também foi contactada por esta reportagem, a fim de comentar se violam ou não a Constituição dos Estados Unidos os últimos ataques com mísseis por parte dos “policiais do mundo”, como disse igualmente indignado o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, no mesmo dia dos bombardeios à Síria. A Constituição norte-americana proíbe as guerras preventivas, ou seja, sem que os Estados Unidos tenham sido anteriormente atacados por algum Estado. Segundo Marjorie, a Constituição prevê o uso da força militar apenas no caso de “emergência nacional criada por ataque aos Estados Unidos, aos seus territórios ou a suas posses, ou a suas Forças Armadas”, o que ela aponta que não ocorreu neste caso.
Porém, a legista afirma que existe, legalmente, a possibilidade de que os Estados Unidos ataquem outro Estado sem ter sido previamente atingido através da Resolução de Poderes de Guerra (War Powers Resolution), que pode ser aplicada apenas nas seguintes situações: “Primeiro, após o Congresso ter declarado guerra, o que não aconteceu neste caso. Segundo, quando há ‘autorização estatutária específica’ através de uma Autorização para o Uso da Força Militar (Authorization for the Use of Military Force, AUMF) o que, novamente, não ocorreu”. Pois o presidente Trump justificou os ataques com mísseis à Síria, exatamente, sobre a AUMF.
Outra renomada jurista ouvida por esta reportagem, Azadeh Shahshahani, ativista pelos direitos humanos e diretora do Projeto de Segurança Nacional pelos Direitos dos Imigrantes da União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), lembra que “houve aplicação de AUMF no caso da guerra contra o Afeganistão, e uma resolução do Congresso no caso da guerra contra o Iraque. Continua sendo debatida a questão em relação a onde essas bases eram suficientes para se declarar guerra”. Azadeh diz concordar com Marjorie, em que “não existem justificativas para o ataque à Síria, e que Trump excedeu a autoridade”.
Quanto às leis internacionais, o presidente Trump passou por cima da Carta das Nações Unidas, tratado ratificado pelos próprios Estados Unidos que requer duas justificativas para uso da força militar contra um Estado soberano, sem o prévio consentimento deste, ou seja, uma declaração de guerra: que o país atacante, alegando autodefesa, tenha sido atacado antes em seu território, ou que tenha sido autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU. Como no caso das leis norte-americanas, nenhum destes elementos estiveram em vigor nos ataques perpetrados pelas forças norte-americanas à base aérea síria do último dia 7, já que a ONU não autorizou o ataque e o impedimento do suposto uso de armas químicas, alegação da administração de Trump, não configura auto-defesa.
As questões legais são apenas uma introdução ao diálogo de surdos imposto pelos poucos tomadores de decisão de Washington, quando o assunto é “Guerra ao Terror”. Conforme abordado em Global Research na reportagem Relações Rússia-EUA: Escalada das Tensões sob Risco de Guerra Nuclear , é fato comprovado que o Estado Islamita (EI, ou Daesh ou ainda ISIS) e a Al-Nusra, filiada à Al-Qaeda no Iraque, têm atacado com armas químicas fornecidas por Washington.
Quem tem confirmado essa informação, entre diversos meios de comunicação como o New York Times, são inspetores da ONU e o próprio Departamento de Estado dos Estados Unidos, quem reconhece que não existem “rebeldes moderados” na Síria. No que diz respeito ao governo sírio, jamais foi provada nenhuma acusação de Washington e seus aliados ao longo dos anos, nem neste caso específico da semana passada que Bashar al-Assad utilizou-se de armas químicas. “Não ataco com armas químicas sequer os terroristas, muito menos faria isso contra civis”, tem afirmado o presidente sírio.
O EI, assim como a Al-Qaeda e suas franquias, nada mais é que um dos tantos subproduto das invasões dos Estados Unidos no Oriente Médio, inconstitucionais e contrárias às leis internacionais: passou a existir no Iraque pós-invasão norte-americana em 2003, por jovens radicalizados pela invasão ocidental que acabaram se espalhando pela região.
Contudo, um breve histórico da ocupação norte-americana no Oriente Médio (ocultada por Washington e por seus porta-vozes da grande mídia internacional) traz a compreensão de que a denominada Guerra ao Terror foi arquitetada bem antes dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 (cuja versão oficial é insustentável), para ser infinita e servir como pretexto para a permanência das bases militares norte-americanas na região mais rica em petróleo do mundo. E como consequência, por que este diálogo supostamente em prol do combate ao terrorismo internacional, do jeito que está imposto pelas grandes potências e pela mídia, não leva a lugar nenhum enquanto apoiado na desinformação, na total inversão de papeis.
A versão oficial diz que a União Soviética invadiu primeiro o Afeganistão em 1980, e que posteriormente os Estados Unidos saíram em defesa do país centro-asiático. Porém, ao contrário do que dizem até hoje os livros de História e a narrativa da própria mídia predominante, a invasão da CIA ao Afeganistão precedeu à soviética. Nas palavras de Zbigniew Brzezinski, conselheiro de Segurança Nacional do então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter (1977-81), a intenção da Casa Branca era “dar à União Soviética o seu Vietnã, e atolá-la no Afeganistão” (vídeo de Brzezinski incentivando afegãos a combater inimigos em nome de Alá, em 1979).
“De acordo com a versão oficial, o apoio da CIA aos mujahideen (combatentes) começou em 1980, ou seja, depois da invasão do Afeganistão pelo exército soviético em 24 de dezembro de 1979. Mas a realidade, mantida em segredo até hoje, é completamente diferente: foi em 1979 quando o presidente Carter assinou a primeira diretriz para o apoio secreto da oposição contra o regime pró-soviético, em Cabul. E no mesmo dia eu escrevi uma nota, na qual expliquei ao presidente que esse apoio levaria, na minha opinião, a uma intervenção militar dos soviéticos”, afirmou Brzezinsk
A partir daquele momento, a USAID, conhecida ONG de fachada da CIA, passou a estabelecer as madrassas (escolas de guerra religiosa, ou a nova jihad, versão norte-americana) em solo afegão e paquistanês com livros didáticos made in Nebraska, ensinando a jihad violenta aos meninos, jovens e adultos locais.
Procurada para comentar também sobre as madrassas, Friba confirma as informações oficiais dos Estados Unidos, ao afirmar que “muitas dessas escolas e universidades operam abertamente e propagam o extremismo religioso ainda hoje, e recebem grandes fundos dos políticos. Tudo isso é aceito pelo establishment paquistanês”. O ISI (Inter-Services Intelligence), inteligência paquistanesa, opera em estreita parceria com a CIA desde a década de 1970. “O complexo de inteligência militar do Paquistão controla o nascimento e a nutrição dessas escolas islamitas para promover seus planos odiosos, tanto no Paquistão como no Afeganistão. O Paquistão tem promovido seus interesses no Afeganistão por décadas, através de fundamentalistas treinados e educados em suas madrassas; os talibans são, puramente, subprodutos dessasmadrassas”, acrescenta Friba.
O próprio sítio Council on Foreign Relations, famoso think tank dos “falcões (hawks) norte-americanos tais como o senador republicano John McCain (político norte-americano que mais recebe verbas do lobby armamentista), publicou em 2009:
“O relatório da Comissão do 11 de Setembro, divulgado em 2004, afirmou que algumas das escolas religiosas do Paquistão, ou madrassas, serviram como “incubadoras de extremismo violento. (…) Novas madrassas brotaram, financiadas e apoiadas pela Arábia Saudita e pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, onde os estudantes foram encorajados a se juntar à resistência afegã. O Taliban foi formado no início da década de 1990 por uma facção afegã de mujahideen, combatentes islamitas que tinham resistido à ocupação soviética do Afeganistão (1979-1988) com o apoio secreto da Agência Central de Inteligência dos EUA e sua contraparte paquistanesa, a Inteligência Inter-Serviços (ISI). Eles foram acompanhados por tribos pashto mais jovens que estudaram em madrassas paquistanesas, ou seminários; Taliban, no idioma pashto, significa ‘estudante’.”
O documento intitulado USAID REPORT 1994 – Missão no Paquistão e Afeganistão, Projeto de Apoio à Educação, de 1994, afirma que, através de mais esta “ajuda humanitária” dos norte-americanos, criou-se os materiais didáticos que ensinam uma guerra religiosa que, hoje, Washington tanto condena. Como parte do “apoio à educação”, na realidade à resistência afegã à invasão soviética inculcando o fundamentalismo religioso, a USAID gastou 50 milhões milhões de dólares em um projeto de “alfabetização jihad (guerra religiosa)” entre 1986 e 1992.
Em 2002, o jornal norte-americano The Washington Post informou: “Até mesmo os talibans usaram os livros produzidos nos Estados Unidos”. Mais tarde, em julho de 2014, o mesmo Post lembrou: “Impresso em pashto e em dari, as duas principais línguas do Afeganistão, livros como O Alfabeto para a Alfabetização Jihad foram produzidos sob os auspícios da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), pela Universidade de Nebraska, e contrabandeados para o Afeganistão através de redes construídas pela CIA e a agência de inteligência militar do Paquistão, o ISI. (…) De acordo com pelo menos um estudioso norte-americano, esses antigos textos anti-soviéticos ainda estão em circulação. (…) A versão em pashto inclui ilustrações para crianças, tais como ‘T’ para ‘topak’, ou arma em pashto. Como você usa a palavra? ‘Meu tio tem uma arma’, diz a ilustração. ‘Ele faz jihad com a arma”.
Outras lições ensinam que Cabul pode ser governada apenas por muçulmanos, e que todos os russos e invasores são descrentes. ‘Nossa religião é o Islã. Muhammad é nosso líder. Todos os russos e infiéis são nossos inimigos’, relatou a Al-Jazeera em dezembro de 2014 sobre os livros didáticos jihadistas patrocinados pelos EUA. “Cabul é a capital do nosso querido país”, diz a ilustração da letra ‘K’. ‘Ninguém pode invadir nosso país. Só os afegãos muçulmanos podem governar este país'”.
De acordo com Dana Burde, autora e professora de Educação Internacional na Universidade de Nova Iorque em entrevista a WYSO.org em dezembro de 2014, um livro didático nos EUA para ensinar a guerra religiosa a alunos de primeiro grau em pashto, inclui: “Letra ‘M’ (M maiúsculo e pequeno m): (Mujahid): ‘Meu irmão é Mujahid [combatente]. afegão. Os muçulmanos são Mujahideen. Eu faço jihad com eles. Fazer jihad contra os infiéis é nosso dever'”.
Ainda segundo Burde, o governo dos EUA pagou e aprovou materiais curriculares para crianças pequenas que enfatizavam a guerra religiosa. Os livros foram reimpressos e permaneceram em larga circulação até meados dos anos 2000, quando o governo afegão pós-invasão introduziu versões revisadas. Mas Dana Burde comprou o livro que contém a passagem acima em um mercado em Peshawar, Paquistão, em fevereiro de 2013.
Desta maneira, foi o Império mais terrorista da história quem financiou, armou e treinou os jihadistas (prática nova na região, onde judeus e islamitas viveram secularmente em paz, muito mais que em relação aos próprios cristãos), entre eles Osama bin Laden e Saddam Hussein a fim de defender os interesses econômicos e estratégicos dos Estados Unidos na região. Os combatentes afegãos, senhores da guerra chamados de mujahideen, foram recebidos na Casa Branca por ele, ele mesmo!, Ronald Reagan em 1985, quem então comparou os belicistas islamitas com os “pais fundadores dos Estados Unidos por seu comprometimento com a liberdade e com a paz” (imagem do sacrossanto encontro de Reagan com os senhores da guerra afegãos, em Reagan Archives; vídeo, aqui).
O capítulo V do Project for the New American Century, denominado Rebuilding America’s Defenses: Strategy, Forces and Resources for a New Century Rebuilding America’s Defenses e elaborado no final dos anos de 1990 pelos que comporiam a equipe de governo de George W. Bush (filho), previa que apenas um novo Pearl Harbor seria capaz de servir como justificativa para se concluir a empreitada norte-americana no Iraque, de derrubar Saddam Hussein, e reafirmar o domínio militar dos Estados Unidos na região. Para isso, o 11 de Setembro serviu perfeitamente. Como parte da criminosa “Guerra ao Terror”, vieram Afeganistão de novo, Iraque novamente, além de Líbia e Síria na lista imperialista de “intervenções humanitárias”.
Apenas de 1991 para cá, as “intervenções humanitárias” dos Estados Unidos ao Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria custaram dezenas de trilhões de dólares aos contribuintes norte-americanos e mais de cinco milhões de vítimas dos bombardeios, e também do embargo econômico imposto ao Iraque na década de 1990 que, apenas este, levou mais de 200 mil mulheres, crianças e idosos à morte, por fome e doenças facilmente tratáveis.
Em 2007, o General Wesley Clark afirmou na rede norte-americana de notícias Democracy Now! que o plano de Washington, logo após a queda das Torres Gêmeas, era invadir sete países em cinco anos: Iraque, Síria, Somália, Líbia, Sudão, Irã e Iêmen. Nada mudou com Trump. E sempre esteve claro que não mudaria.
Friba tem uma explicação bastante clara e simples para o diálogo de surdos entre matança indiscriminada: “Quem se senta na Casa Branca, seja quem for, serve à guerra em favor do 1% das classes dominantes em todo o mundo, a fim de manter a supremacia dos Estados Unidos”. Por isso, segundo a ativista afegã, as grandes potências ocidentais não têm o interesse de combater grupos terroristas do Oriente Médio, pelo contrário: “Criaram e deram as mãos a eles. Em nome da ‘Guerra ao Terror’, os Estados Unidos na verdade apoiam terroristas e usam o terrorismo como arma para derrotar seus rivais, tais como Rússia e China”.
Em defesa do ataque de Trump têm saído também o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, o presidente da França, François Hollande, a primeira-ministra britânica Theresa May, e os chefes de governo de Austrália e Turquia, Malcolm Turnbull e Recep Tayyip Erdoğan, respectivamente.
O presidente russo Vladimir Putin considerou o ataque “uma agressão contra um país soberano”, que atenta “contra as normas internacionais com uma desculpa fictícia”, declarou seu portavoz Dmitri Peskov.
“A Rússia terá de mostrar alguma reação a isso, de alguma forma. O nível da escalada é extremamente elevada.Tendo lançado o ataque de mísseis sobre a Síria à noite, Trump mostrou que é um político irresponsável, que não tem experiência política nem cultura política. Isso pode levar a um agravamento muito sério das relações entre nossos dois países, às conseqüências mais imprevisíveis”. Opinião do especialista de Alexander Bedritsky, diretor do Tauride Information and Analytical Centre, a Pravda.Ru no mesmo dia.
A Bolívia solicitou, junto da Rússia uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU imediatamente após o lançamento dos 59 mísseis norte-americanos contra a base de Shayrat. Na sessão extraordinária desta sexta-feira, o representante permanente da Bolívia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, Sacha Llorenti, afirmou que o ataque à Siria por parte dos Estados Unidos representa uma violação “escandalosa” da carta da organização, e “uma ameaça à paz e á segurança” internacional.
Representando uma guinada no “quintal” dos Estados Unidos, o governo boliviano tem sido seguido pelo da Venezuela – sem dúvida, seria seguido também pelos presidentes Fernando Lugo, Manuel Zelaya, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, o que é altamente improvável que ocorra com os fantoches de Tio Sam: Horacio Cartes, Juan Orlando Hernández Alvarado, Michel Temer e Mauricio Macri. Tais posturas explicam perfeitamente os golpes à democracia travestidos de Primaveras sociais e limpeza ética por sistemas judiciários mal disfarçados, em uma região de suma importância às relações internacionais e cujos governos progressistas das últimas décadas têm (ou tinham) prezado pela soberania.
Al-Assad não atende aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos, além de grande aliado de Rússia e Irã, o que explica o antigo desejo de neutralizá-lo enquanto fazem vistas grossas a, por exemplo, Arábia Saudita, regime entre os maiores violadores dos direitos humanos em todo o mundo – aliada histórica dos interesses de Washington na região. China Rússia e em si já são consideradas entraves para os almejos imperialistas de Tio Sam, de maneira que guerras a distância, ou proxy wars como se tem dito pelo mundo em inglês, são na concepção dos estrategistas de guerra norte-americanos uma maneira de desgastar China e Rússia, evitando o confronto direto com as temidas nações: no caso da segunda, possui as bombas mais sofisticadas do planeta e território geograficamente mais favorável no caso de uma invasão. Pois exatamente a Rússia tem, nos últimos anos, modificado as relações internacionais fazendo com que os EUA recuem em muitos casos, como no da própria Síria nos últimos anos, quando o regime de Obama esteve na iminência de intervir militarmente, e derrubar Assad. O Irã, desafeto regional dos EUA e de Israel, também é aliado sírio.
Provocar uma guerra generalizada é do interesse dos poucos tomadores de decisão global, também pela situação econômica mundial e porque veem seu poder diminuindo gradativamente: as relações internacionais são cada vez mais multipolares. As sociedades globais se fortalecem na era da revolução da informação, através de uma Internet cada vez mais vigiada. Para cercear fortemente as liberdades civis, qual a mais apropriada justificativa para os poderosos que o conflito permanente, e o medo constante?
A Guerra Civil síria é muito mais perigosa que qualquer momento da Guerra Fria, incluindo a famosa Crise de Mísseis de Cuba de 1962. Hoje, o potencial de conflito nas relações russo-americanas é maior do que na segunda metade do século passado.
A mencionada reportagem foi finalizada desta maneira: “Nada indica que Trump, por inaptidão ou falta de vontade política, mudará este cenário de III Guerra Mundial sob sério risco de ataques nucleares”.
Diante disso tudo, está claro que o maior erro do Kremlin ultimamente, em sua exitosa empreitada contra os terroristas na Síria em conjunto com o governo local, foi ter depositado confiança na administração de Trump desde a campanha presidencial. O presidente russo Vladimir Putin deveria ter se lembrado que a sobrevivência do sistema norte-americano depende da indústria armamentista, que o terrorismo internacional é peça-chave no tabuleiro imperialista a fim de fazer avançar sua agenda enquanto justificativa para suas política coercitivo-expansionista, e das sábias palavras de Che Guevara: “Não se pode confiar no Império, nem um tantinho assim”.
Talvez seja tarde demais para se tentar salvar a humanidade de mais uma catástrofe made in USA: o cenário de III Guerra Mundial já está há muito montado e um confronto direto entre as grandes potências parece, agora, irreversível; é tudo o que o agonizanteestablishment norte-americano-sionista precisa para tentar paralisar o avanço de um mundo multipolar, e salvar a combalida economia capitalista do norte econômico.