HRW: EUA são único país desenvolvido que autoriza exploração de crianças a partir dos 12

ONG Human Rights Watch denunciou a exploração das crianças nos campos de tabaco norte-americanos, que trabalham até 60 horas por semana

Os Estados Unidos consideram prioritária a luta contra o tráfico de seres humanos. Segundo John F. Kerry, os Estados “têm uma obrigação moral de aceitar esse desafio já que o tráfico de seres humanos é um ataque contra nossos valores mais caros como a liberdade e a dignidade humana”. 1

Foto : Divulgação/Human Rights Watch, Human Rights Watch fez relatório com um alerta sobre a exploração de menores de idade nas plantações de tabaco nos EUA

Leia a primeira parte do artigo de Salim Lamrani: 
‘Os EUA não têm moral’, diz Cuba sobre acusação de tráfico de seres humanos

Entretanto, o próprio relatório do Departamento de Estado é esmagador para Washington. De fato, os “EUA são fonte, trânsito e destino de homens, mulheres e crianças — tanto cidadãos estadunidenses quanto residentes estrangeiros — vítimas de tráfico sexual e trabalhos forçados”.2

Segundo esse mesmo relatório,

Os meios de comunicação informaram sobre abusos dos quais foram vítimas indivíduos estrangeiros que trabalham para o exército estadunidense no Afeganistão. Várias ONGs reportaram que os detentores de visto que trabalham como serventes foram submetidos a trabalhos forçados pelos funcionários das missões diplomáticas e das organizações internacionais presentes nos Estados Unidos. Mulheres e meninas indo-americanas foram submetidas ao comercio sexual e a juventude LGBT tem sido particularmente vulnerável aos traficantes. 3

O relatório do Human Rights Watch

Por outro lado, os EUA são, sem dúvida, o único país desenvolvido onde as crianças podem ser exploradas no trabalho a partir dos 12 anos de idade. A Human Rigts Watch, organização de defesa dos direitos humanos, denunciou a exploração das crianças nos campos de tabaco. Segundo a entidade, elas têm em média 13 anos de idade e trabalham até 60 horas por semana.

Segundo uma investigação do HRW, 53% deles são expostas a pesticidas; 66% sofrem de sintomas recorrentes tais como “náuseas, vômitos, dores de cabeça, tonturas e perdas de apetite”, devido à exposição à nicotina; e 73% já estiveram doentes por “náuseas, dores de cabeça, enfermidades respiratórias, problemas de pele e outros sintomas”. 4

Segundo o HRW, as crianças “trabalham longas jornadas sem que sejam remuneradas pelas horas extras, sob um calor extremo, sem sombra ou pausas suficientes e sem proteção adequada”. Terminam “expostas a uma nicotina perigosa sem ter fumado um único cigarro”. As crianças também são obrigadas a manipular “ferramentas e máquinas perigosas, levantar cargas pesadas, escalar vários níveis sem proteção para pendurar o tabaco nas granjas”. 5

A organização acrescenta que “os tratores derramaram pesticidas perto das regiões de trabalho dos campos”, afetando gravemente a saúde das crianças, que ressaltaram que “o spray os alcançava diretamente, causando vômitos, tonturas e provocando dificuldades respiratórias e uma sensação de irritação nos olhos”. Além disso, a maioria dos pesticidas usados na produção de tabaco são “neurotóxicos notórios, venenos que alteram o sistema nervoso”.

Semelhante exposição pode provocar, no longo prazo, “câncer, problemas cognitivos e de aprendizagem e esterilidade”. O HRW ressalta que “as crianças são particularmente vulneráveis, já que seus corpos e cérebros ainda não terminaram de se desenvolver”. Por outro lado, “a maioria das crianças entrevistadas pelo Human Rights Watch declararam que não tinham tido acesso a banheiros ou a algum lugar para lavar as mãos nas áreas de trabalho, ficando com resíduos de tabaco e pesticidas nas mãos, inclusive durante os períodos de refeição”. 6

Vídeo feito pela HRW sobre plantações de tabaco:

Em 2012, 70% das crianças com menos de 18 anos mortas em acidentes de trabalho eram trabalhadores agrícolas. O Código de Trabalho dos EUA não oferece proteção suficiente. Assim, as crianças podem ser exploradas na agricultura a partir dos 12 anos e trabalhar “por longas horas, com um salário inferior, em condições mais perigosas que qualquer outra indústria”. 7

A inclusão de Cuba na lista dos países envolvidos no tráfico de seres humanos parece estar mais motivada por considerações políticas e ideológicas que por uma base factual precisa e verificável. De fato, as organizações internacionais, particularmente as encarregadas da proteção da infância, como o UNICEF, contradizem as afirmações da Washington em relação à exploração de menores. Ao contrário, louvam a política social a favor da proteção das pessoas na ilha do Caribe.

Por outro lado, os Estados Unidos, centro do tráfico dos seres humanos segundo o Departamento do Estado, é o único país desenvolvido que autoriza a exploração de crianças a partir dos 12 anos, o que joga assim uma sombra em sua credibilidade quando se trata da defesa dos direitos humanos.

1. Le Monde, “Le rapport américain sur la traite d’humains provoque un tollé”, 20 de junho de 2013.
2. State Department, “Trafficking in Persons Report 2014”, junho de 2014. http://www.state.gov/documents/organization/226849.pdf (site consultado em 30 de junho de 2014), p. 30-36.
3. Ibid.
4. Human Rights Watch, “US: Child Workers in Danger on Tobacco Farms”, 14 de mayo de 2014. http://www.hrw.org/news/2014/05/14/us-child-workers-danger-tobacco-farms#infographic (site consultado el 30 de junio de 2014).
5. Ibid.
6. Ibid.

* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama Cuba. Les médias face au défi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.

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About the author:

Docteur ès Etudes Ibériques et Latino-américaines de l’Université Paris IV-Sorbonne, Salim Lamrani est Maître de conférences à l’Université de La Réunion, et journaliste, spécialiste des relations entre Cuba et les Etats-Unis. Son nouvel ouvrage s’intitule Fidel Castro, héros des déshérités, Paris, Editions Estrella, 2016. Préface d’Ignacio Ramonet. Contact : [email protected] ; [email protected] Page Facebook : https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel

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