Guatemala: Revolução, Golpe, Mudanças e Reviravoltas na América Latina

Reviravolta na Guatemala

A administração de Obama leva a frente uma incansável, implacável, impiedosa e cruel guerra contra os presidentes dos países latinoamericanos que não levem a cabo uma política que tenha sido arranjada e organizada por poderes em Washington, ou que não satisfaça aos mesmos. As tarefas relacionadas com uma derrubada dos por Washington indesejáveis líderes latinoamericanos,sobre toda a extensão de seus termos em ofício, é determinada nas Embaixadas dos Estados Unidos na Venezuela, Equador, Bolívia, Brasil e Argentina. Os intensivos ataques contra Nicolás Maduro, Rafael Correa, Evo Morales, Daniel Ortega, Dilma Rousseff e Cristina Fernandes de Kirchner aumentam constante e sucessivamente. Washington conta com que a caída de um deles leve a um dominó efeito na América Latina que acabe por esmagar com os “populistas” [populistas para nós significando o poder popular].

Nesse cenário de fundo a operação especializada da Embaixada dos Estados Unidos para retirar do poder o presidente da Guatemala Otto Peres Molina não se apresenta como nenhuma surpresa. Depois tem-se também que sempre se esteve contando com o fato de que ele seria uma uma aposta certa do Pentágono e do Departamento do Estado dos Estados Unidos. Nos anos oitenta, de quando Washington estava a instigar uma repressão sangrenta para esmagar o movimento guerrilheiro na Guatemala, e na América Central, o general Peres Molina foi o homem a dirigir as operações de represália feitas pelo conjunto de esquadrões particulares especializados, os quais eram conhecidos como “Caibiles”. O general Molina tornou-se depois, através das pressões da CIA, o diretor dos serviços secretos do país. Em Washington não havia dúvida de que ele no cargo de presidente da Guatemala iria executar todas as diretivas dadas a ele.

Entretanto dentro de pouco tempo Peres começou a dar sinais de pretender estabelecer sua independência e autonomia conquanto ignorando ordens diretas da Embaixada. Ele começou também a demonstrar de muitas maneiras que na Guatemala quem mandava era ele, e daí chega, basta. Alguém de dentro dos seus círculos começou a falar que ele estaria querendo declarar o embaixador dos Estados Unidos como “persona non grata”. A Embaixada de quando ouvindo esses planos decidiu tomar a liderança. O pretexto usado para a sua derrubada do poder foi o estabelecimento de uma guerra contra a corrupção. Quem formalmente tomou a direção dessa guerra foi a Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), padronizada pela OTAN. Na verdade essa comissão era dirigida pelo Departamento do Estado dos Estados Unidos e pela CIA, e usada  para propelar o campo político na Guatemala para estabelecimento de uma pro-americana “nova geração” no poder.

Peres compreendeu muito bem que informações comprometedoras quanto a ele e seus funcionários e associados tinham sido dadas à CICIG pela Embaixada dos Estados Unidos onde funciona o sistema de espionagem e escutas [ilegais]. Sem fazer muito estardalhaço quanto ao seu mal-estar frente as atividades da CICIG ele tentou terminar com o trabalho da comissão dizendo que a tarefa poderia ser dada por concluída e que essas poderiam ser encerradas no final do ano. Entretanto a pressão americana fez-se sentir e Peres recapitulou anunciando o prolongamento do mandato da CICIG por mais dois anos.

Em fevereiro de 2014 CICIG estava sendo dirigida pelo colombiano Ivan Velasquez, membro do Supremo Tribunal do seu país, onde também se fazia o mesmo que na Guatemala: “Limpava-se” com os dados comprometedores fornecidos pela CIA e pelos serviços militares de inteligência dos Estados Unidos. Diga-se de passagem que esses fazem parte dos métodos habituais de trabalho da estrutura de poder dos EUA. Quanto a mídia pro-americana na Guatemala essa apresentava Velasquez como um herói. Publicações a respeito dele se dão com títulos como “O colombiano que derrubou Peres”. Ele mesmo sabe como calar-se quanto ao envolvimento da Embaixada dos Estados Unidos nos inquéritos e mais ainda sobre seus próprios contactos com os centros de atividades da CIA.

A manipulação da informação, frequentemente no nível do fuxico e da fofoca, faz acusações sem escrúpulos e sem provas numa tarefa de “estufar as linguiças”. Entretanto, esse trabalho foi suficiente para convencer o povo da Guatemala que no seu país existiam dois grupos mafiosos armados. Um deles apresentava-se com a denominação? El Sindicato, que apresentava-se como dirigido por Peres, o próprio presidente da Guatemala. O outro apresentava-se como a “Confradaria” [?] – no original “Cofradía” – que dizia-se ser dirigido por Roxana Baldetti, a vice-presidenta. Frequentemente acusações semelhantes são alinhavadas/cozidas/construídas no decorrer das discussões ao vivo. Tudo fica destruido antes mesmo de qualquer análise e avaliação seriosa seja feita. Tem-se  – da maneira que tudo se desenrolou, e depois de muitas águas terem passado – que o resultado obtido, visto da perspectiva deles, só possa ser considerado como um grande sucesso. Muitos foram os que cairam depois das primeiras tarefas de comprometer e tirar do poder políticos indesejáveis para os Estados Unidos na América Latina terem sido dadas aos serviços secretos norteamericanos.

Abaixo da pressão da para ele total necessidade de apaziguar e silenciar as manifestações de rua nos protestos contra a corrupção, Peres começou a fazer concessões: Para começar retirou a vice-presidenta Roxana Baldetti do seu posto. Depois vieram a perder os seus postos ainda umas dezenas de funcionários. Muitos deles foram acusados de pertencer uma estrutura de corrupção denominada como “La Linea” [A Linha?] – ativa na alfândega e nos orgãos das autoridades fiscais. A mídia acusava Peres de ser a figura chave nessa estrutura, e de que a sua inimizade contra a CICIG vinha do fato dele não querer perder a sua parte desse mercado negro e obscuro, feito nas sombras.

Peres começou a perder o controle da situação no país. Ele tentou manobrar, deu garantias ao embaixador americano Todd Robinson de que tinha tomado providências para a instalação de reformas políticas e jurídicas. Entretanto já era tarde demais. Chegando quase ao seu auge as demonstrações de rua e outras ações de protesto continuavam a crescer incontrolavelmente. Em 5 de junho ativistas de uma organização pouco conhecida denominada como “Aliança Cristã dos Trabalhadores”, chamada assim como na melhor das tradições da CIA, bloquearam a via central da capital da Guatemala. No final de agôsto começou uma greve-geral, a primeira em dezenas de anos, na qual tomaram parte não menos que 100.000 pessoas [observe-se que aqui já se trata de um novo conceito de democracia – não a das urnas, mas a dos gritos e berros e das desordens dos arruaceiros… Canja de galinha chamar 2-5 milhões de pessoas as ruas num país de 100.000.000 de habitantes, não é verdade? No caso da Guatemala ca de 15.000.000 / 100.000. Foi tudo contra seu voto? Cale a boca ou lá vem porretada da nova ordem assim estabelecida].

O parlamento reagiu a esse [democrático?] protesto e tirou a imunidade de Peres. O presidente se viu obrigado a deixar o seu cargo em 2 de setembro. No dia seguinte, no 3 de setembro então, o Tribunal da Guatemala apresentou a ordem de prisão de Peres, por corrupção.

Foi dito que “dada a gravidade das acusações” o ex-presidente tinha sido levado a uma prisão militar. Numa entrevista com a CNN Otto Peres Molina acusou principalmente Washington, sublinhando que a “Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala” era controlada pelos americanos. Peres disse então que:- “Isso me foi dito em pelo menos três ocasiões (e numa delas) pelo vice-presidente Biden, que também me pediu, durante minha visita em Washington, que eu prolongasse a credencial da CICIG”. Peres disse que não tinha se decidido quanto a isso porque a direção militar do país via essa comissão como um órgão repressivo, construída com o dinheiro americano para assédio, perseguição, busca, acusação e repressão, além de retaliação contra cidadãos da Guatemala, e isso não só por motivos, suspeitas, ou pretextos de corrupção, mas também para a perseguição dos que tinham “protegido o país” nos anos da guerra civil.

De acordo com a Constituição o posto presidencial foi ocupado pelo vice-presidente Alexandro Maldonado, 79 anos. Ele é um indestrutível político, entendido como “o homem de Washington”. Maldonado ocupará esse cargo até o 14 de janeiro de 2016, de quando o novo presidente fará seu juramento e tomará posse. A Embaixada dos Estados Unidos publicou o seguinte pronunciamento no seu site, em 3 de setembro: “Nós notamos o fato da saída do poder pelo presidente Otto Peres Molina e iremos trabalhar com o novo presidente Alexandro Maldonado Aguirre, com o seu programa de reformas que continua a luta contra a corrupção e desenvolve a segurança na Guatemala. Nós cumprimentamos o povo da Guatemala e suas instituições pela pacífica abordagem graças a qual essa crise foi superada. Confirmamos também nosso apoio para os processos democráticos na Guatemala e entre esses o das eleições programadas para o 6 de setembro”.

As rápidas eleições sairam no prazo determinado. Entretanto ninguém conseguiu vencer no 1º. Turno. Em 25 de outubro virá o 2º. Turno. De acordo com a mídia, Jimmi Morales, 46 anos, apresentador de televisão, regissor cinematográfico e ator do gênero cômico tem as melhores chances. Ele se candidatou pelo partido FCN, Frente/Fronte Nacional de Convergência. Ele apoia uma direção militar- conservativa- nacionalista e os grupos da burguesia. Seu grito de guerra:- “Sem Corrupção e Sem Ladrões”. Incerto quem será seu concurrente. Poderá ser Sandra Torres, UNE- União Nacional de Esperança, ou Manuel Baldison do partido “Líder” – LDR. Nenhum desses três levanta medo, apreensão, receio ou preocupação no Departamento de Estado [dos Estados Unidos].

Porque teria os Estados Unidos derrubado Peres? A corrupção no continente é muito grande e para os Estados Unidos de onde viria a maior e mais perigosa escala de corrupção senão de seu vizinho, o México? Será que estariam planejando algum tipo de combinação geopolítica como uma futura “Aliança em nome da prosperidade” (incluindo Guatemala, Honduras e Salvador)? Será que Peres recusou-se a liderar uma “oposição regional” contra a construção do canal interroceânico na Nicaragua? Será que terá rejeitado propósitos do Pentágono quanto a construção de uma grande base de referência/apoio na Guatemala?

Teria tudo simplesmente sido para mostrar aos centro-americanos quem é o dono da casa, partindo do princípio “bata nos seus, para que lutem melhor/façam medo ao inimigo”? Estou inclinado a pensar nessa variante, porque tudo que os Estados Unidos estiveram fazendo nos últimos 25 anos pode ser concentrado na fórmula “Use Muita Força- Raciocínio Não Necessário” ou alternativamente “Muitos Poderes- Não Mente”.

Teria o presidente da independente e soberana Guatemala podido imaginar o que acabaria por cair nas mãos de “uma comissão internacional contra a impunidade” – da CICIG?

Nil Nikandrov

Referências e Notas:

Título original “Певеворот в Гватемале” = Reviravolta na Guatemala

(Певеворот significando também quando se tratando de uma entidade política um golpe de estado. Implica sempre um virar, revirar, por em desordem, revolucionar, mudar. Para finns pedagógicos a manchete do título ficou como apresentado acima do título original).

Nil Nikandrov, Певеворот в Гватемале, Нил Никандров –

http://www.fondsk.ru/news/2015/09/16/perevorot-v-gvatemale-35428.html

Nota da Tradução – Otto Peres Molina – nascido em 1950 em Guatemala City. Pertencendo ao Partido Patriota e General. Presidente da Guatemala de Janeiro de 2012 até 3 de setembro de 2015.

Traduzido do russo por Anna Malm* – https://artigospoliticos.wordpress.com

Phil.Lic. – Risk Research. Stockholm School of Economics

 


Articles by: Nil Nikandrov

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