Golpe à Democracia no Brasil Relaciona-Se à Geopolítica Regional e Mundial
Militarização do Brasil vem sendo esboçada há anos, e os sucessivos golpes à democracia possuem remetente e objetivos tão claros que apenas um míope intelectual (para dizer o mínimo) é incapaz de enxergar. Atual guinada à extrema-direita não se trata de “fenômeno a ser sociologicamente desvendado”. Pelas dúvidas, WikiLeaks e Snowden corroboram de maneira inconteste tais verdades, aos espíritos realmente dispostos a encontrá-las.
É realmente espantoso que, a fim de se tantar compreender (se é que determinados indivíduos buscam compreender) o que anda ocorrendo na política e na própria sociedade brasileira, haja considerável dificuldade no País em se colocar alguns fatos da mais alta relevância em contexto, e inclusive se lambrar hoje, tempos mais sombrios pós-“redemocratização”, das denúncias documentais de Edward Snowden de que o Brasil vinha sendo, por dez anos até 2013, o país mais espionado de toda a América Latina e um dos mais espionados em todo o mundo pelo regime de Washington.
Logo da descoberta de petróleo na camada pré-sal do litoral brasileiro em 2008, que coloca o País entre as maiores reservas mundiais do produto, Tio Sam reativou a IV Frota Naval desativada até então desde o final da II Guerra Mundial (1945) que navega até hoje nas proximidades da mencionada região petrolífera, ferindo a soberania e, consequentemente, é claro, ameaçando a segurança nacional.
Vale destacar que, sobre isto, os autodeclarados “patriotas” à direita no Brasil (donos de peculiar raiva ideológica que perambula entre esquizofrenia democrática e histeria justiceira de acordo com cada caso, e quando lhes convém) jamais disseram uma vírgula sequer, repetindo assim um velho filme, bem conhecido de longa-data e que se repetiria mais tarde, em casos similares.
Naquela mesma época, o jornal mensal carioca A Nova Democracia publicou reportagem (role a tela) em que denunciava:
“Os brasileiros vêm sendo alvo de uma monumental tentativa de embuste, na sequência de uma série de casos de grampos telefônicos legais ou ilegais. (…)
“São investigações de fachada, falsos surpreendidos, mentirosos fingindo-se de escandalizados, CPI dos grampos comandada por um legítimo representante do Estado policialesco, e promessas de regulamentação daquilo que foi criado exatamente com o objetivo de funcionar na surdina, à revelia de qualquer supervisão de caráter verdadeiramente democrático. (…)
” As classes populares não podem se deixar iludir por toda esta concertação (…). A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) não passa de uma reedição do SNI, o Serviço Nacional de Informações, criado sob a supervisão da CIA em 1964 pelo gerenciamento militar então recém instaurado no Brasil.
“A Abin foi criada há quase dez anos, e quase dez anos depois do fim do seu antecessor. O “monstro” — nas palavras do antigo manda-chuva do SNI, o general Golbery Couto e Silva — foi extinto em 1990 e ressuscitado em 1999 por obra e graça de Fernando Henrique Cardoso, sendo então devidamente rebatizado. (…)
“Hoje, os sucessivos casos de grampos ilegais que chegam ao conhecimento público — além das exorbitantes 407 mil autorizações judiciais para escutas telefônicas — nada mais são do que a ponta do iceberg. Valendo-se das atualizações tecnológicas, generalizou-se uma prática fascista do SNI na época dos milicos sob o nome de “sangrar linhas. (…)
“Manteve-se para a Abin a dupla missão que norteava o SNI, ou seja, minar a resistência interna às políticas de entreguismo e colaborar com o USA na perseguição internacional àqueles que se opõem à dominação imperialista.”
Em janeiro de 2013, segundo documentos apresentados pelo ex-contratista da CIA Edward Snowden, o Patropi era exatamente o mais espionado do mundo, e junto (atenção para estas informações) sua então presidente Dilma Rousseff, a Petrobras e até milhões e milhões de civis comuns (incluindo as figuras dos perfeitos idiotas que hoje integram movimentos “tipo-exportação” como MBL, comprovadamente financiados por personagens ao norte do Rio Bravo). Naquele período, foram nada menos que “2,3 bilhões de telefonemas e mensagens espionados”, segundo a reportagem”, segundo reportagem (role a tela) de O Globo à época.
Logo a seguir, importamos do mundo árabe (ilustre desconhecido a nível nacional, vale colocar em questão) a “Primavera”: as tais Jornadas de Junho levaram às ruas milhões de pessoas que, fato comprovado por diversas entrevistas inclusive internacionais, atrapalhavam-se em dizer contra o que protestavam então, qual era a reivindicação que as levava às manifestações em enorme medida impulsadas por ele mesmo, Fez-se buque.
Este lixo de rede social, segundo WikiLeaks “máquina de espionagem em massa” que todo cidadão dotado do mínimo senso de diginidade deveria deletar para todo o sempre, criou à época milhares de falsos perfis arrastando as multidões desavisados às ruas de todo o Brasil, inúmeros desavisados que mesclavam alegria ocasional com raiva por não se sabia bem o quê; mas a ordem era extravasar.
Entrevista Telesur com uma reaça tupiniquim do Rio de Janeiro à época, mostrou-a gaguejando ridiculamente diante da pergunta da repórter sobre o que revindicava nas ruas, até palrar qualquer coisa catada em seu imaginário aleatório: “Corrupção! Lutamos contra a corrupção!”.
A revista Caros Amigos entrevistou uma empresária do ramo da farmácia na avenida Paulista entre os manifestantes, que condenava severamente o governo Dilma por tentar importar o bolivarianismo da Venezuela; questionada sobre o que siginficava bolivarianismo, segura na cadeira: a reaça de turno deu mais um exemplo perfeito da ignorância de seu segmento ao dizer que se trata de políticas da Bolívia, destinadas a ferir a soberania nacional uma vez impostas no Brasil (enquanto, para terminar o tragicômico festival da mais retumbante imbecilidade, a mesma cidadã defende, sim, ditadura dentro de casa). Vale destacar que o termo bolivarianismo, e a Caros Amigos observou isto também, refere-se à política independendista de Simón Bolivar (= bolivariano, nada a ver com boliviano) para a América Latina.
Durante nossa “Primavera”, que miraculosamente terminou tão repentinamente quanto começou sem ninguém entender nada do que nem para que aconteceu bem ao estilo das “Primaveras” mundo afora, cuja artificalidade e origem são bem conhecidas (The Arab Spring: Made in the USA; IT’S OFFICIAL: “ARAB SPRING” SUBVERSION U.S. FUNDED; WIKILEAKS: Telegrama secreto emitido pela Embaixada dos EUA em Damasco, Síria, role a tela), os três principais jornais do Brasil publicavam “pesquisas” (guarde-se este dado) claramente favorecendo um cenário para intervenção militar no País, quase que diariamente.
E através de terrorismo jornalístico pela mesma grande mídia, a então presidente Dilma que contava com amplos índices de popularidade e taxas de emprego recorde na história do Brasil, de repente passou a cair vertiginosamente em termos de popularidade, sem nenhuma justificativa a não ser muito xingamento do mais baixo nível.
Sem nenhuma explicação, sem nenhum fato concreto jamais mencionado a não ser muita ofensa pessoal. Ali, passou a ser assustador o cenário; exacerbavam os velhos ódio e ressentimento especialmente das classes média e alta, cheia de preconceitos, enquanto Estratégias de Tensão ocorriam por todo o País na tal “Primavera”, inclusive ataques de militares travestidos de manifestantes contra órgãos públicos.
Até que veio a “Primavera” versão 2016 apresentando como novidade um subproduto da anterior: obscuros movimentos como MBL, desavergonhadamente seletivos e covardes em seus “protestos” – cuja máscara vem se despedaçando em ritmo acelerado há uns tantos meses.
Hoje, a sempre pobre indústria brasileira (também por irresponsabilidade petista, mas não apenas) está destroçada, a começar pela (atenção) Petrobras, e ao menos 50 por cento dos brasileiros apoiam raivosamente intervenção militar a nível nacional – 78 por cento apoiam essa afronta ao Estado de direito e à vida humana quanto à intervenção no Rio há um ano e meio do regime do ultradireitista Donald Trump nos Estados Unidos, que tem manifestado abertamente de levar às últimas consequências a “política” idealizada pelo presidente estadunidense James Monroe (1817-1825), “a América para os americanos” conhecida como Doutrina Monroe, isto é, a América Latina como quintal dos norte-americanos – e isso mesmo os “lords do bem-dizer” na terra da liberdade” declaram em público, sem o menor contrangimento.
Em setembro e dezembro do ano passado, o general Antônio Hamilton Mourão sugeriu que as Forças Armadas podem participar de uma intervenção militar no Brasil, caso se instale uma situação de “caos no País”, ao mesmo tempo que militares norte-amaericanos realizavam exercícios em território roraimense: gravíssima afronta à soberania nacional. Ambos os fatos somam-se entre os vários, que apontam sério indicio de que o Brasil está muito mais próximo de um novo regime militar que à implementação, finalmente, de uma democracia efetiva.
O Brasil que, durante os anos de Luiz Inácio e Dilma fortalecia como nunca antes na história a integração latino-americana (criação da Celac, Banco do Sul etc) e a própria aliança de cooperação Sul-Sul da economia mundial a fim de se descolar de Washington, além do Brics que ascendia potente bloco a nível mundial, está hoje isolado, empobrecido diplomaticamente, e toda essa integração tão temida pelo regime de Washington, enfraquecida.
O Brasil, nos anos do PT, acentuou o tom contra as ocupações sionistas a ponto de a presidente Dilma recusar no início de 2016 (vésperas de sua derrubada, atente-se a isso), de maneira inédita em nossa história, o estabelecimento de Dani Dayan como embaixador israelense em Brasilia por defender abertamente os assentamentos de Tel Aviv sobre indiscriminado massacre e expulsão de palestinos, donos legítimos das respectivas terras.
Houve graves erros petistas, recheados de demagogia e márquetim político mas baixo; houve golpe da Dilma a seu próprio programa de governo assim que, pela segunda vez, pisou no Palácio do Planalto em 2014; as maiores repressões da história pelo Estado brasileiro contra povos originários em favor do agronegócio e dos grandes latifundiários, deu-se nos anos petistas; os lucros bancários promovidos pelo PT deram-se como nunca antes na história, assim como o financiamento petista da grande mídia; Luiz Inácio gargalhou da cara de quem hoje mais precisa para salvar a pele, ao dizer que apenas um débil-mental atinge certa idade mantendo ideias de esquerda, diante de auditório composto pela elite paulistana em 2006; houve alianças indecentes do começo ao fim, que deixavam claro a qualquer um que se voltava contra o PT e ainda cobraria um preço muito maior colocando em risco a própria democracia brasileira (como este autor vinha observando, sob fortes ataques dos neomoderados esquerdistas lulopetistas); houve a mais completa e aberrante cooptação dos movimentos sociais pelo PT, que terminou de generalizar inércia e apatia entre a sociedade, condição que hoje pesa amarga e ironicamente contra o partido derrubado do poder.
Mesmo com issto tudo o Brasil, com o dueto em questão na Presidência da velha República de Bananas, havia deixado o Mapa Mundial da Fome, e retirado 36 milhões de brasileiros da miséria. Com Dilma o Brasil viveu pleno emprego e, com ambos, Luiz Inácio e Dilma, o País estava menos distante (digamos assim, pois o termo “mais próximo” poderia ser um exagero a governos neoliberais com aspecto humano como os do PT, como diz o economista canadense Michel Chossudovsky) de futuros governos efetivamente populares do que esse de hoje e qualquer um envolvendo MDB, PSDB e tantos outros – até pelo que sempre esteve em torno do ex-dueto presidencial e de seu partido.
Nunca o Brasil foi tão respeitado em todo o mundo, nunca esteve tão afirmado diplomaticamente e, consequência disso, com tanta voz nos mais diversos organismos internacionais. Nunca houve tanta esperança no Brasil, em parceria com africanos, latino-americanos, russos, chineses, indianos, de se vencer o imperialismo e de se construir economias mais voltadas à cooperação que à imposição e pilhagem de riquezas alheias.
E inúmeros cabos secretos e ultrassecretos emitidos pelos “embaixadores” (espiões) estadunidenses em Brasilia, liberados pela rede do jornalista australiano Julian Assange, atestam preocupação em relação a isso tudo por parte dos melhores amigos dos hoje donos do poder deste país falido, com sua “Ponte para o Futuro” que terminou de nos arrasar.
O acelerador do desmonte nacional e do enfraquecimento do Estado de todos os lados, Michel Temer, segundo WikiLeaks informante da CIA no Brasil, e o juiz Sérgio Moro, desmantelador da indústria nacional quem ainda, outrossim de acordo com cabos confidenciais liberados por WkiLeaks, foi treinado com colegas de toga por Tio Sam, são a maior evidência disso tudo. Um contexto simples de ser entendido: o “fenômeno” brasileiro está intimamente relacionado a métodos bem antigos, que passam pelas vésperas de 1964.
A (ir) responsabilidade da mídia alternativa diante desta situação caótica – setor midiático que não faz totalmente jus à autodenominação -, dá-se no fato de tentar, em muitos casos envolvendo política nacional, combater tendencionismos dos monopólios midiáticos com outros tendencionismos e ocultação de informações cujo natural efeito colateral, é prestar sua enorme porção de serviço à alienação coletiva. Manipulações midiáticas apenas podem ser combatidas através da verdade dos fatos, e isso não tem sido completamete praticado no Brasil (em nada por ingenuidade “alternativa”, mas por interesses político-partidários).
Ele pode por algum motivo não ocorrer, mas um novo golpe militar está na ordem do dia de diversos usurpadores do poder, entre eles a poderosa FIESP que promoveu o golpe de 1964 travestido de Revolução Democrática: que ninguém esperava, e com dinheiro e orientações da CIA (nem de ideias golpistas originais, nossas classes dominantes são capazes). Hoje, os sinais estão mais que claros, escancaram sobre o sangue de mártires como Marielle. Aliás, em um país sem memória que carece de mártires-exemplos a serem seguidos. Presente!
Edu Montesanti