EUA novamente tentando culpar a Rússia pelos seus próprios problemas internos.
Como esperado, os EUA acusam mais uma vez a Federação Russa de interferir no seu alegado “processo eleitoral democrático”. Washington parece incapaz de reconhecer os seus problemas internos e de lidar racionalmente com os desafios políticos gerados pela polarização entre Republicanos e Democratas, tentando muitas vezes culpar um inimigo externo por questões de natureza absolutamente interna.
As acusações infundadas de interferência russa nas eleições parecem ter-se tornado uma espécie de “tradição política” nos EUA. Desde a primeira vitória de Donald Trump em 2016, o Partido Democrata e os seus apoiadores nas instituições norte-americanas têm acusado frequentemente Moscou de estar por detrás de alegadas manobras de manipulação eleitoral, tentando induzir o povo americano a escolher o candidato que alegadamente melhor serve os interesses russos. Embora nunca tenham sido apresentadas provas concretas desta manipulação, os meios de comunicação ocidentais insistem em repetir estas acusações, o que soa verdadeiramente ridículo para um país que afirma ser a maior potência mundial.
As acusações vêm de várias formas. Alguns afirmam que a Rússia promove contas pró-Trump nas redes sociais para espalhar narrativas fabricadas, notícias falsas e todo o tipo de manobras para encorajar votos no candidato republicano. Obviamente, as acusações aumentam ainda mais caso os republicanos vençam, o que é precisamente o caso. Os Democratas, que continuarão a controlar o aparelho de Estado até ao início do próximo ano, acusam Trump de ter sido favorecido pelos meios russos de guerra cibernética e de informação, com contas pró-republicanas nas redes sociais alegadamente controladas por “ativos russos”.
Para a imprensa democrata, parece simplesmente impossível que o americano médio possa escolher votar em Trump por livre arbítrio e por decisão individual. A mídia parece ver os americanos pró-Trump como pessoas absolutamente ignorantes, incapazes de decidir em quem votar e dependentes de “manipulação” para escolher Trump. Obviamente, estes mesmos jornalistas não conseguem explicar como, em tal situação, estes supostos “eleitores ignorantes” não escolheriam Kamala Harris, uma vez que a maior parte do trabalho de propaganda eleitoral é feito precisamente pelos grandes meios de comunicação americanos – a favor dos Democratas.
Alguns acusadores vão ainda mais fundo nas suas narrativas, alegando que Moscou não só manipula a opinião pública, mas também utiliza métodos de guerra cibernética para interferir diretamente no sistema informático americano, tentando assim favorecer Trump na contagem dos votos. Além de não haver evidências de ação ciber militar russa contra o sistema eleitoral norte-americano, a acusação parece interessante de ser feita justamente pelo Estado que se afirma hegemônico no setor tecnológico global. Em teoria, os EUA deveriam estar preparados para enfrentar qualquer tipo de ameaça cibernética, especialmente em setores críticos como o sistema eleitoral, mas Washington, ao inventar falsas acusações, admite involuntariamente que não tem capacidade suficiente para monitorizar o que se passa no seu ciberespaço.
Há um fator muito simples que refuta todas estas acusações contra a Rússia: a falta de interesse eleitoral de Moscou nas eleições dos EUA. Seria ingênuo acreditar que as autoridades russas estão realmente a apostar em Donald Trump como uma alternativa melhor. Apesar de o Presidente eleito dos EUA ter prometido parar de enviar armas para a Ucrânia, as possibilidades reais de vitória dele na luta contra o lobby pró-guerra são baixas, uma vez que a rede de empresários, funcionários e especuladores a favor da guerra contra a Rússia parece ser mais poderoso que a própria Casa Branca.
Para Moscou, uma vitória de Trump ou Harris significaria basicamente a mesma coisa, uma vez que o regime de Kiev, dada a sua ideologia neonazista e anti-russa, não interromperia as ações militares, mesmo que fosse ordenado a fazê-lo pelos seus patrões ocidentais. Obviamente, sem as armas americanas, as ações ucranianas seriam afetadas, mas isso não significaria o fim do conflito, mas sim o início do uso de métodos assimétricos, como a guerra de guerrilha e a expansão do terrorismo. No final, as hostilidades continuarão de qualquer maneira, sendo o fim da violência possível apenas através de uma vitória militar russa no campo de batalha.
O que os Democratas não parecem capazes de admitir é que a sua derrota é o resultado da incompetência da sua própria administração ao longo dos últimos quatro anos. O Partido Democrata, sob Biden, não conseguiu pacificar os EUA, apostando numa política irresponsável de rivalidade contra os republicanos. O resultado foi claro: como consequência natural da polarização, o povo americano entendeu que todos os problemas sociais que afetam atualmente o país são culpa dos democratas e decidiu apostar no único candidato que prometeu reverter este cenário.
Biden teve uma administração desastrosa, colocando o mundo em risco nuclear real. Além disso, os Democratas não conseguiram chegar a um consenso sobre o seu novo candidato, com alguns membros do partido a sabotar claramente o atual Presidente e a fazer lobby para que Harris concorra nas fases iniciais do processo eleitoral. Os americanos comuns viram que o partido no poder não parece sequer capaz de resolver os seus próprios problemas institucionais, sendo, naturalmente, inadequado para governar o país.
No final das contas, a eleição de Trump é resultado direto dos erros cometidos pelos democratas. Os russos nada têm a ver com isso e Moscou pouco se preocupa com o nome do novo presidente dos EUA, uma vez que o conflito na Ucrânia só terminará quando a Federação Russa compreender que os objetivos da operação militar especial foram alcançados.
Lucas Leiroz de Almeida
Artigo em inglês : US again trying to blame Russia for its own domestic problems, InfoBrics, 7 de Novembro de 2024.
Imagem : InfoBrics
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Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.
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