Discriminação e Ódio em um País que Glorifica a Desinformação, a Estupidez e a Ignorância
Repassando a informação de que agora – não faltava mais nada no Brasil – o patético super-herói das classes dominantes brasileiras, Sérgio Moro, juiz de primeira instância da Operação Lava Jato, será denunciado na… Lava Jato (!), um senhor amigo, branco e da classe média “não-proletária” (eles não gostam do termo burguesia, classe a que pertencem) do Sul do País, sem me questionar de quem partia a denúncia, o que exatamente ela dizia e nem sequer me dar tempo de dizer que havia sido previamente periciada na Espanha, apenas afirmou – após apontar, ele mesmo, que o denunciado não merece confiança, justificando isso sobre um passado segudo ele (na verdade, segundo um amigo havia relatado) nada favorável ao jurista paranaense, o que deveria dar crédito à atual denúncia na mente de qualquer cidadão minimamente coerente e lúcido – não acreditar em seu conteúdo o qual, em resumo, revela uma “indústria das delações” praticada por uma “panela” de advogados em Curitiba, levando à adulteração de documentos e acusações falsas, o que inocentaria a ex-presidente Dilma Rousseff da acusação de recebimento de propina da Odebrecht na campanha presidencial de 2014, e pode fazer o mesmo em relação à acusação deque o sítio de Atibaia pertence ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para logo, sabedor de que escrevo a Pravda, desviar o assunto rumo ao flanco das críticas, completamente vazias e alternadas com chacotas, à Rússia e ao presidente russo, Vladimir Putin – com direito a apelido jocoso a este, sem nenhuma base e bem ao estilo grande mídia de idiotização em massa, excedendo em ódio e faltando em conteúdo ainda que se valha da remontagem de sombrios anos de revanchismo à la Guerra Fria. Já dizia Agni Shakti: “Na falta de argumento, a ignorância usufrui da agressividade e da ofensa como modo de ataque”. Assim, no Brasil hoje, conversar sobre o quê?
Me pegou de supresa a primeira, e mais ainda a segunda postura obrigando-me a, sem entender nada daquilo do ponto de vista mais racional-humano (considerando que animais, em geral, de sua maneira raciocinam), usar a sensatez e colocar em prática a observação de Euripides, romancista grego (480-406 a.C.): “Converse com um tonto, e ele o chamará de tonto”. Assim, de maneira bem humorada e disfarçada, “peguei meu boné” como se diz na gíria do futebol, e na pequena cidade do interior do estado de Santa Catarina retirei-me elegantemente da “conversa”, joia rara no Brasil de hoje – quantas saudades de uma boa conversa!
Mas conversar sobre o quê, em um país onde Eduardo Cunha na Câmara e Renan Calheiros no Senado, o primeiro condenado e preso e o segundo, megaprocessado, lideraram o impedimento de uma presidente contra quem não há provas e de quem foram aliados até às vésperas do processo, e de quem o mesmo PT hoje se aproxima sem nada disso gerar manifestação popular? Debater o quê, enquanto o policial federal Newton Ishii, condenado e preso a 4 anos, 2 meses e 21 dias de prisão por ter facilitado contrabando, com tornozeleira eletrônica prende outros condenados sem nenhuma indignação da sociedade que, por outro lado, com tanta energia condena uns “outros” tantos, sempre pendendo a balança da raiva “anti-corrupção” para o mesmo lado?
Meu bom relacionamento com este senhor, gentil e educado, não muda (espero que não); porém, embora o Brasil de 205 milhões de criaturas humanas não se resuma a este indivíduo, em primeiro lugar sua postura certamente retrata o estado de espírito do brasileiro em geral, em relação à verdade dos fatos: glorificando a pós-verdade segundo a definição dos dicionários de Oxford, “Relaciona-se com, ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos exercem menos influência na formação da opinião pública, que os apelos à emoção ou à crença pessoal”. Ao brasileiro médio, o que mais importa hoje (e sempre foi assim, estando hoje apenas mais exacerbado o caótico cenário) não é se a informação é verdadeira ou falsa nem o quanto ela pode desempenhar um papel crucial na (delicadíssima) vida do País, mas se se adequa aos medos, às fobias e ideias pré-concebidas do indivíduo. Qualquer coisa que fuja disso, mexe profundamente com os espíritos fazendo manifestar o alto grau de esquizofrenia democrática e histeria justiceira do brasileiro, longe de discussões sóbrias e racionais, construtivas e equilibiradas ainda que críticas.
Nada mais patético! Seres que possuem nada menos que dona Rede Globo como outra heroína, no sentido mais amplo do termo – no mais “nobre”, hoje em dia de modo um tanto velado, é verdade, ao condenar abertamente por manipulação das informações a quem empresta irregeneravelmente a mente a fim de ser, por ela mesma, pautada, seguindo fielmente suas imposições opinativas sem o menor contrangimento. No sentido mais nocivo, heroína que anestesia a consciência: os históricos escândalos de corrupção envolvendo o clã Marinho não geram, nunca geraram a menor indignação na “nata intelectual e moral” deste País. Os canalhas se atraem.
A posição do escravo mental em questão ilustra também o ódio e a discriminação preponderantes em relação ao Partido dos Trabalhadores, dando razão à ex-presidente Dilma Rousseff quando, recentemente, disse que para as classes dominantes e grande midia, “o PT é coisa de preto”. Cresci em um bairro de classe média, e em uma escola particular da cidade de São Paulo, e me lembro bem o quanto se dizia que “PT… é coisa de baiano!”, ridicularizando, de uma só vez, o partido e os cidadãos baianos de maneira completamente inadequada, criminosa até. Alguém tem alguma dúvida se tal mentalidade ainda prepondera, até hoje, entre paulistas e paulistanos naquela cidade?
Ódio e disciminação são as únicas coisas que podem explicar essa “jurisprudência” covarde da sociedade em aceita tudo que condena o PT como verdade absoluta, e deleitar-se sobre isso, ao passo que nega apenas e tão-somente conhecer toda e qualquer posição que possa absolve o partido em questão, e condenar seus acusadores (longe, bem distantes de serem reservas morais e intelectuais, repitamos). Isso, para nem se estender aqui na jurisrpudência da própria “Justiça” tupiniquim, elitizada, raivossa, revanchista, completamente parcial, grande emblema do falacioso Estado de direito brasileiro. Em tudo isso refletida fielmente, é claro, pela sociedade.
Com todas as críticas e, se necessário, investigações em relação ao PT – e tudo isso é justo e necessário, sim -, assusta a atual aversão da sociedade baseada na desinformação vendida descaradamente pela grande mídia a indivíduos que se entregam a uma profunda cegueira mental, marcante nas classes média e alta brasileiras, as mais ignorantes, histéricas e devastadoras do mundo, segundo estudos as que menos leem entre a humanidade – muito bem representadas, aliás, por seus aloprados super-herois de péssimo nível, intelectual e moral.
Apenas não vê quem realmente não quer, que há em todos os segmentos da sociedade uma seletividade muito descarada na criminalização do PT, baseada em acusações infundadas e não na racionalidade. Trata-se do velho ódio de classe, de gênero (especialmente contra Dilma Rousseff), regional, étnico neste País fortemente colonizado culturalmente, de mentalidade agressivamente escravocrata.
Não é do interesse da sociedade nem de ninguém a busca pela verdade e o combate à corrupção, mas sim o combate às diferenças, ao “forasteiro”.
Fatos que, ao contrário dos militantes petistas, este autor não vem observando apenas agora, pós-golpe: manteve essa linha ao longo de todos os anos 2000, ainda quando esses mesmos petistas respondiam – no poder, é claro – com histeria a tais críticas qualificando-as nervosamente de síndrome de vira-latismo. Pois hoje há até fundador do PT não apenas denominando a sociedade brasileira de “gentinha”, “povinho insignificante”, como também defendendo abertamente o fuzilamento de quem não compactue com a ideia de que o golpe jurídico-parlamentar-midiático foi aplicado, em 2016, contra a ex-presidente Dilma.
Esta aberração petista não é isolada e deve-se ao ódio, à falta de conteúdo e de atitude (solidariedade, brios, capacidade de ação e reação, etc) versão “esquerda” no Brasil a qual, historicamente prepotente como poucos segmentos neste País, após anos julgando-se o último pé de alface da geladeira vegetariana, vê seu bobo da Corte (seus partidos políticos e personagens mais emblemáticos) completamente nu e mesmo seu único e patético projeto de Brasil, à beira do naufrágio, isto é, retomar o poder.
O Brasil está indialogável. Em todos os aspectos o debate, ou mesmo conversas entre e sobre as mínimas diferenças está completamente travado. Pelo ódio, pela intolerância, pela discriminação, pela escravização mental, pelo espírito fortemente reacionário mesmo à “esquerda”, e pela profunda ignorância que, desde que a primeira Missa foi rezada no Monte Pascoal, anda de mãos dadas com nossa sociedade, irmã siamesa que, de uns tempos para cá, resolveu sair do armário com mais fúria, tornando inconteste tal realidade tanto á direita quanto à “esquerda” que padece, exatamente, daquilo que sempre acusou o outro: do que chama de vira-latismo [neste sentido, observemos também “o Brasil é assim mesmo, todo mundo faz e não há outro jeito” a fim de justificar as novas (velhas) alianças com a oligarquia megaprocessada deste País, lições nunca aprendidas por gente sem caráter, que não quer progredir mas se interessa apenas pelo poder, o poder pelo poder a qualquer custo, iguaizinhos os cães de rua submetendo-se aos chutes pelas migalhas].
Nestes dias, um importantíssimo editor de determinado meio de comunicação brasileiro disse-me, pela segunda vez, que acredita estar assustador o ambiente no Brasil hoje, e que teme pelo que possa ocorrer a médio prazo no País. Recentemente, um renomado historiador brasileiro comentou comigo o mesmo, que a situação tem estado muito estranha a ponto desse intelectual retirar-se, por tempo indeterminado, da atividade escrita.
Nesta mesma cidade de Santa Catarina, em dois locais públicos a esposa deste autor, jovem acreana, morena, de ascendência indígena e com forte sotaque nortista em busca de serviços públicos, deparou-se em cada um deles com a humilhante ordem fascista de que “para quem é de fora, demora mais”. Pois é isto mesmo: a prestação de serviços “públicos” (!) em Santa Catarina tem dependido do estado de origem do desgraçado cidadão brasileiro (para nem dizer se for estrangeiro trabalhador…).
Os tais serviços nunca se consumaram conforme direito constitucional, inalienável da cidadã acreana e, diante disso, não há órgão público procurado que aja minimamente, pelo contrário e não há novidade nisto: eles se blindam descaradamente desde o topo, são indevida e indecentemente estrutuados para isso levando-os a situações de inevitável escarnecimento do cidadão indefeso, completamente refém de um Estado elitizado, putrefato, impiedoso, terrorista psicoloicamentediante do qual não há justiça, não há lei, não há Consttuição, não há absolutamente nada a não ser quando isso tudo e qualquer coisa possa ser utilizada em favor dessa canalhada dominante escondida detrás de forte apelo moralista, que insiste em jogar as cartas do Brasil ao mesmo tempo que o joga na lata do lixo mundial.
No caso específico do fascismo catarinense, casos como o relatado acima abundam em mais este estado das aparências tupiniquins, paupérrimo e insuportável; contudo, parafraseando o brilhante jornalista e editor da revista Caros Amigos, Aray Nabuco em recente editorial: sempre surge o momento em que o povo, farto de tanta humilhação e exploração neste sistema podre, levanta-se. É o que esperamos, ardentemente.
Estão assustadores os tempos atuais no Brasil. E na era da relativa revolução da informação através da Internet, a sociedade é altamente (ir)responsável por isso: conforme o caso aqui exposto vem a evidenciar, não dá mais para culpar os podres poderes somente, embora estes desempenhem papel preponderante neste festival do ódio, da discriminação e da profunda ignorância que reina soberana neste País! E cujo quadro tenebroso, o PT não fez nada para mudar… Diz o psicanalista Caio Fábio: “Não há nada mais adoecedor e imbecilizador, que o perpétuo aprendiz de um ensino que não produz efeitos práticos em sua vida”.
Edu Montesanti