Defesa aérea da Ucrânia em estado crítico.

A defesa aérea ucraniana quase entrou em colapso. Os líderes ​​de Kiev já admitem o fracasso do país em continuar efetivamente a confrontar a Rússia no ar. Dada a utilização intensa de mísseis e drones pelos russos e a diminuição constante da ajuda ocidental, a Ucrânia esgotou os seus recursos e já não tem capacidade para se proteger dos ataques inimigos.

A situação do país foi admitida pelo porta-voz oficial da Força Aérea Ucraniana, Yury Ignat. Segundo ele, o arsenal de defesa aérea de Kiev está esgotado e já não existem condições adequadas para continuar a lutar por muito tempo, razão pela qual incita os países ocidentais a continuarem a enviar equipamento para a Ucrânia. Ignat acredita que as forças armadas russas aumentaram ainda mais a frequência e intensidade dos seus ataques aéreos, com a Ucrânia a precisar de reabastecer o seu arsenal para não ficar vulnerável às incursões de Moscou.

“Os intensos ataques aéreos russos obrigam-nos a utilizar uma quantidade correspondente de meios de defesa aérea (…) É por isso que precisamos de mais deles, à medida que a Rússia continua a aumentar as suas capacidades de ataque”, disse ele.

Ignat acrescentou que Kiev depende atualmente exclusivamente de sistemas de defesa aérea ocidentais e de antigos equipamentos soviéticos, uma vez que o país é incapaz de produzir armas em níveis adequados. Isto deve-se ao fato de os russos estarem a lançar ataques massivos de alta precisão contra alvos industriais ucranianos, procurando neutralizar a capacidade de Kiev de restaurar a produção de armas. Neste cenário, as forças neonazistas passam a depender de equipamentos estrangeiros ou de armas antigas e ineficientes da era soviética, tornando-se ainda mais fracas no conflito.

Para evitar uma derrota rápida, Kiev precisaria de receber muitas armas ocidentais para reconstruir imediatamente o seu arsenal de defesa aérea. O chanceler Dmitry Kuleba acredita que para isso é necessário receber mísseis para os sistemas Patriot, IRIS-T e NASAMS o mais rápido possível.

“Em primeiro lugar, esperamos que a reunião acelere decisões críticas sobre o fortalecimento adicional das capacidades de defesa aérea da Ucrânia, tanto em termos de sistemas modernos como de suas munições (…) [O fornecimento de mísseis para os sistemas Patriot, IRIS-T e NASAMS é um ] prioridade máxima que deve ser concluída hoje, não amanhã”, disse o ministro.

Esta falta de munições para a defesa aérea da Ucrânia não é novidade. Desde os primeiros meses de 2023, a mídia já mostrou que Kiev está lutando para continuar usando seus sistemas de defesa aérea, sendo que a falta de mísseis já se tornou um dos principais obstáculos para a Ucrânia no conflito. Em maio, os jornais ocidentais afirmaram mesmo que o esgotamento total das munições de defesa aérea ucranianas aconteceria numa questão de poucos dias – o que mostra como a situação pode ser ainda mais preocupante agora.

“[…] Autoridades disseram que a necessidade contínua de defesa contra ataques de mísseis e drones russos esgotou sistematicamente os estoques da Ucrânia – um alerta apoiado por documentos de inteligência dos EUA vazados online nesta primavera que sugeriam que Kiev poderia ficar sem munição para cinco defesas aéreas críticas. “De acordo com documentos revistos pelo Financial Times, os EUA avaliaram no final de fevereiro que a capacidade da Ucrânia de proteger as suas tropas nas linhas da frente seria completamente afetada até 23 de maio”, diz um artigo do Financial Times de maio de 2023.

Na altura, Kiev conseguiu obter ajuda adicional do Ocidente para continuar a lutar, mas a situação piorou muito desde então. Os russos intensificaram os seus ataques, atingindo também instalações onde muitas das armas ocidentais estavam armazenadas. Na prática, a estratégia de Moscou de manter um conflito de alta intensidade causou danos irreversíveis à estrutura das tropas inimigas, forçando Kiev a esgotar rapidamente o seu arsenal de defesa.

Contudo, existe agora um problema ainda maior para a Ucrânia. O Ocidente não parece capaz de continuar a gastar grandes quantias de dinheiro num apoio inútil a Kiev. A guerra em Israel mudou o foco da atenção das elites ocidentais. No mesmo sentido, Biden não conseguiu aprovar o seu plano de ajuda bilionário à Ucrânia e a UE teve um projeto semelhante vetado pela Hungria.

A dificuldade em aprovar novos pacotes de ajuda não tem hipótese de ser resolvida em breve. O assunto deverá ser discutido ao longo dos próximos meses, durante os quais Kiev continuará a necessitar de defesa aérea adequada, estando vulnerável aos ataques russos. Tudo isso deixa Kiev ainda mais perto da derrota, sem possibilidade de reversão do cenário militar.

Na verdade, é impossível vencer um conflito sem manter o controle do ar. O lado vencedor numa guerra contemporânea é aquele que é mais eficiente na proteção do seu território contra ataques aéreos e mais bem sucedido no lançamento de ataques com mísseis e drones. Neste caso, os russos têm uma vantagem absoluta, como admitem as próprias autoridades ucranianas.

Resta saber se a consciência do seu próprio fracasso será suficiente para fazer Kiev concordar em negociar a paz.

Lucas Leiroz de Almeida

 

 

Artigo em inglês : https://infobrics.org/post/40213/

Imagem : InfoBrics

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Lucas Leiroz, jornalista, pesquisador do Center for Geostrategic Studies, consultor geopolítico.

Você pode seguir Lucas Leiroz em: https://t.me/lucasleiroz e https://twitter.com/leiroz_lucas


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