Como a OTAN cavou na Ucrânia
« Cave bem, velha toupeira ! » assim descreveu Marx o trabalho preparatório da revolução do século XIX. Essa mesma imagem poder ser utilizada hoje no sentido inverso para descrever a operação conduzida pela OTAN na Ucrânia. Ela começou em 1991, de quando depois do Pacto de Varsóvia a União Soviética veio a se desintegrar : no lugar de um só estado se formaram quinze, inclisive então aí a Ukraina.
Os Estados Unidos e seus aliados europeus se ativaram imediatamente para tirar tantas vantagens quanto possível dessa nova situação geopolítica. Em 1999 a OTAN demoliu, através de guerra, a Federação Iugoslava, um país que poderia ter sido um obstáculo para a desejada expansão ao Leste e começa então a englobar os primeiros países do ex-Pacto de Varsóvia : a Polônia, A República Chéquia e a Hungria.
Depois em 2004 e 2009 a englobalização se estende a Estônia. Lituânia e Letônia (ex-partes de União Soviética); Bulgaria, Romênia, Eslováquia ; Eslovênia e Croácia (republicas da ex-Iugoslávia) assim como a Albânia. O território da Ucrânia, de 600milhas de km2, faz uma espécie de zona de segurança, um tampão, entre a OTAN e a Rússia, sendo que o território da Ucrânia é atravessado por colares energéticos situados então entre a Rússia e a União Européia. A Ukraina mantem-se, contrariamente aos acima mencionados, autônoma. Entretanto ela veio a entrar no « Conselho de Cooperação Norte-Atlântico », em contribuindo para as operações de « manutenção da paz » nos Balcãs.
Em 2002 foi adotado o « Plano de Ação OTAN-Ucrânia » e o presidente Kuchma anunciou sua intenção de aderir a OTAN. Em 2005, nas águas da « revolução laranja » [ou seja as derrubadas de governo usando diversas cores a representá-las] o presidente Yushchenko foi convidado ao summit da OTAN em Bruxelas. Imediatamente depois disso foi lançado o « diálogo intensificado sobre a aspiração da Ucrânia em tornar-se membro da OTAN ». Em 2008 o summit de Bucareste dá a luz verde para sua entrada. Em 2009 Kiev assinou um acordo permitindo o trânsito terrestre de provisões para as forças da OTAN, no Afeganistão, através do seu território.
Depois disso a adesão da Ucrânia a OTAN parecia coisa certa, mas em 2010 o presidente Ianukovych, agora novamente eleito, anunciou que mesmo que desejando continuar com a cooperação, uma adesão a União Européia, UE, não estaria na agenda de seu governo. Contudo, no meio tempo a OTAN começou a tecer uma rede de ligações no seio das forças armadas ucranianas.
Oficiais de alto grado vem participando, já a anos, nos cursos do Colégio Militar da OTAN, -em Roma e em Oberammergau na Alemanha- sobre temas que dizem respeito a integração das forças armadas ucranianas as da OTAN. É nesse cenário que se insere a instituição, ao pé da Academia Militar ucraniana, de uma nova « faculdade multinacional » com a bandeira da OTAN.
Há também um considerável desenvolvimento da cooperação técnico-científica no sector dos armamentos para facilitar, através de uma grande interoperacionalidade, a participação das forças armadas ucranianas as das « operações conjuntas para a paz » abaixo da direção da OTAN.
Agora, dado que « muitos ucranianos não teriam suficiente conhecimentos sobre o papél e os objetivos da aliança, e ainda teriam a lembrança dos estereótipos do tempo da guerra fria » a OTAN instituiu em Kiev um centro de informações. Esse centro organiza discussões e seminários, e mesmo visitas de « representantes da sociedade civíl » ao quartel-general de Bruxelas.
E como não existe só o que se vê, é evidente que a OTAN tem uma rede de contactos, nos meios militares e civís, de muito maior extensão do que o aparente. Isso se pode confirmar pelo ton de comando com o qual o secretário geral da OTAN se dirigiu, em 20 de fevereiro, as forças armadas ucranianas, em as advertindo quanto ao ficarem “neutras” sobre penas de « graves consequências negativas para as nossas relações ». A OTAN deve se sentir depois disso certa de poder dar um novo passo quanto a sua extensão ao Leste, em englobando provavelmente a metade da Ucrânia, ao mesmo tempo em que ela continua a sua campanha contra « os passados estereótipos da guerra fria ».
Manlio Dinucci
Edição de terça-feira, 25 de fevereiro 2014, de il manifesto,
http://ilmanifesto.it/allargamento-a-est-si-ma-della-nato/
Tradução Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.com, para mondialisation.ca