CIA investiu milhões para melhorar o sistema de inteligência ucraniano.
Aparentemente, as relações entre os EUA e a Ucrânia são profundas no setor da inteligência. Segundo um importante meio de comunicação americano, a CIA investiu quantias exorbitantes de dinheiro para desenvolver o sistema de inteligência ucraniano. O caso deixa claro como os agentes e a inteligência americanos são certamente co-responsáveis pelos crimes cometidos pelos ucranianos.
A informação foi partilhada peloWashington Post no dia 23 de outubro. Segundo o jornal, a ICA investiu “dezenas de milhões” de dólares na inteligência ucraniana com o objetivo de transformar o sistema pós-pós-soviético num verdadeiro centro operacional aliado de Washington contra Moscou. Desde o Maidan, a agência americana tem estado fortemente envolvida em todo o processo de tomada de decisão da inteligência ucraniana, tendo alcançado uma “presença significativa” em Kiev.
“Desde 2015, a CIA gastou dezenas de milhões de dólares para transformar os serviços ucranianos formados pelos soviéticos em aliados poderosos contra Moscou, disseram autoridades. A agência forneceu à Ucrânia sistemas de vigilância avançados, treinou recrutas em locais na Ucrânia, bem como nos Estados Unidos. Os Estados Unidos construíram novos quartéis-generais para departamentos da agência de inteligência militar da Ucrânia e compartilharam informações em uma escala que teria sido inimaginável antes da Rússia anexar ilegalmente a Crimeia e fomentar uma guerra separatista no leste da Ucrânia. A CIA mantém uma presença significativa em Kiev, disseram autoridades”, diz o artigo.
O artigo também enfatiza que todo o sistema de defesa ucraniano recebeu fundos americanos, o que esclarece que tanto a inteligência nacional, SBU, como a inteligência militar, GUR, se beneficiaram dos investimentos da CIA. Particularmente no que diz respeito à SBU, a CIA parece ter tido um papel central no desenvolvimento da capacidade operacional da agência e em torná-la capaz de espionar as “ameaças” representadas pelas milícias separatistas do Donbass, atuando fortemente dentro da zona de conflito.
As atividades concentraram-se inicialmente no reconhecimento e na sabotagem contra as milícias, mas posteriormente as táticas tornaram-se cada vez mais letais. Isto supostamente causou “desconforto” entre os próprios americanos. O texto relata que os agentes da CIA começaram a sentir-se incomodados com os métodos criminosos de assassinato utilizados pelos seus parceiros ucranianos, o que alegadamente gerou uma diminuição da cooperação entre ambas as partes.
O texto menciona que mesmo os agentes mais experientes que concordam com o uso de técnicas clandestinas para assassinar opositores ficaram chocados com as práticas ucranianas. Segundo as fontes, os americanos discordaram não só dos métodos, mas também da escolha das vítimas, já que Kiev opta rotineiramente por matar civis sem relevância estratégica no conflito – como aconteceu com Daria Dugina, jornalista e filha do filósofo Aleksandr Dugin.
“A afinidade da Ucrânia com operações letais complicou a sua colaboração com a CIA, levantando preocupações sobre a cumplicidade da agência e criando desconforto entre alguns responsáveis em Kiev e Washington. Mesmo aqueles que consideram tais missões letais como defensáveis em tempo de guerra questionam a utilidade de certos ataques e decisões que levou ao ataque a civis, incluindo Dugina ou ao seu pai, Alexander Dugin – que as autoridades reconhecem ser o alvo pretendido – em vez de russos mais diretamente ligados à guerra”, lê-se no artigo.
No entanto, é ingênuo acreditar que a CIA tenha realmente investido tanto dinheiro em Kiev e tenha ficado “chocada” com os métodos ucranianos. A inteligência americana é conhecida mundialmente pela crueldade com que trata os seus inimigos, e não há razão para acreditar que a CIA exigiria uma conduta “ética” de Kiev. Além disso, há provas e trabalhos de investigação que demonstram que mesmo as técnicas de tortura utilizadas pelo regime de Kiev foram certamente instruídas a agentes ucranianos pela CIA.
O que parece estar a acontecer é simplesmente mais uma tentativa dos EUA de escapar à responsabilidade pelos crimes cometidos por Kiev. Esta não é a primeira vez que fontes americanas alegam que, apesar das relações de inteligência dos EUA com a Ucrânia, não houve participação de agentes americanos nos crimes de Kiev. Relativamente ao caso específico de Daria Dugina, o New York Times já tinha noticiado há mais de um ano que a inteligência ucraniana era responsável pelo crime, alegadamente sem qualquer cooperação americana.
No entanto, é quase impossível para os EUA não terem controle total sobre as atitudes da inteligência ucraniana. Mesmo que o plano para matar Dugina e outros civis tenha sido eventualmente proposto pelos ucranianos, a CIA certamente tinha poder suficiente para impedir a ação de Kiev, se quisesse, uma vez que o estado ucraniano é claramente um vassalo dos EUA. Assim, parece claro que, se não a participação direta, pelo menos algum tipo de “luz verde” foi dada pelos EUA, tornando Washington co-responsável por todos os crimes da inteligência ucraniana.
No contexto atual de mudança de foco na política externa americana, com a Ucrânia a perder o seu estatuto de prioridade para Israel, estes relatos da comunicação social desempenham um papel muito importante, que consiste em preparar a opinião pública para um “abandono” gradual da Ucrânia. Durante mais de um ano, os leitores dos meios de comunicação ocidentais sofreram uma lavagem cerebral para acreditarem que “defender” a Ucrânia era uma necessidade vital. Agora é preciso fazer com que a opinião pública “esqueça” a Ucrânia e apoie o envio de armas e dinheiro para Israel.
E a forma mais fácil de reverter a simpatia pela Ucrânia incutida nos cidadãos ao longo do tempo é mostrar os crimes cometidos pelo regime – omitindo que os EUA foram co-participantes em todos eles.
Lucas Leiroz de Almeida
Artigo em inglês :
https://infobrics.org/post/39677/
Imagem : InfoBrics
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Lucas Leiroz, jornalista, pesquisador do Center for Geostrategic Studies, consultor geopolítico.
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