As próximas semanas podem ser o período de maior ameaça à Venezuela
Trump ainda não aceitou a derrota nas eleições e sua permanência na Presidência dos EUA até a posse de Biden pode representar o período de maior ameça de intervenção armada na Venezuela, sobretudo antes do dia 6 de dezenbro próximo, data das próximas eleições legislativas na Venezuela.
Além de tentar questionar judicialmente o resultado das eleições – possibilidade cada vez mais remota – Trump pode decidir por tentar uma invasão armada para depor o governo venezuelano do Pesidente eleito Maduro como estratégia de aumentar a sua popularidade dentro dos EUA, inclusive entre apoiadores do Partido Democrata, antes que Biden venha a tomar posse, para tentar um golpe que o mantenha no poder.
A hostilidade ao Governo da Venezuela é um consenso bipartidário nos EUA. Foi o ex-Presidente Barack Obama quem declarou a Venezuela uma “ameaça” aos EUA. A estrela em ascenção do Partido Democrata Ocasio-Cortez caracterizou o governo venezuelano como “autoritário” e “anti-democrático” – o que levou um de seus apoiadores a enviar uma carta pública denunciado sua postura. Esta carta – que vale a pena ser lida – esta aqui.
E tanto Ocasio-Cortez quanto Bernie Sanders apoiaram a tentativa de golpe na Venezuela em fevereiro de 2019 sob o pretexto de “ajuda humanitária”. Na ocasião, Bernie Sanders declarou:
“O povo da Venezuela está a atravessar uma grave crise humanitária. O governo de Maduro deve colocar as necessidades do seu povo em primeiro lugar, permitir a entrada de ajuda humanitária no país, e abster-se de violência contra os opositores.”
Ao que Roger Waters – do Pink Floyd – rebateu por twitter:
“Bernie, voce está brincado comigo ( are you f-ing kidding me!)! Se voce aceita a linha Trump, Bolton, Abrams, Rubio de ‘intervenção humanitária’ e conspira na destruição da Venezuela, voce não tem cridibilidade para ser candidato à Presidente dos EUA. Ou, talvez tenha, talvez seja o fantoche perfeito para o 1 %.”
Mais sobre a declaração de Sanders, a posição de Ocasio -Cortez e a reação de Roger Waters podem ser vistas neste outro artigo:
https://www.leftvoice.org/bernie-sanders-ocasio-cortez-legitimize-regime-change-in-venezuela
É importante lembrar também que praticamente toda a mídia ‘mainstream’ dos EUA sempre foi hostil à Venezuela e tem apoaido não só as sanções econômicas contra o país mas mesmo as sucessivas tentativas de golpe que, até agora, falharam.
As próximas eleições legislativas na Venezuela são uma ameaça à narrativa ‘fake’ do império sobre o ‘ditador’ Maduro. E o fato de uma considerável parte da oposição venezuelana ter aceitado participar da eleição, repudiando o fantoche ‘presidente auto-declarado’ Juan Guaidó, coloca uma pá de cal em qualquer vestígio – se ainda os há – de legitimidade na oposição representada por Guaidó e seus comparsas.
Portanto, um ataque militar dos EUA antes das eleições venezuelanas de 6 de dezembro seria uma tentativa também de impedir estas eleições. As recentes manobras conjuntas da marinha brasileira com a marinha dos EUA na região do Caribe indicam que ao menos as preparações para um ataque já estão em andamento.
Se Trump decidir por uma tal intervenção, não há de se esperar práticamente nenhuma oposição ou críticas dentro dos EUA nem da mídia dominante nem de significativos quadros do Partido Democrata ou das Forças Armadas.Portanto, ele teria todo o espaço para manifestar-se nos meios de comunicação dos EUA. No imáginário social norte-americano, Trump afirmaria para um grupo bem mais amplo do que o de seus apoiadores atuais a imagem do ‘homem forte’, decidido, aquele que pode recuperar a ‘grandeza’ perdida da América. E isto pode lhe trazer o apoio necessário para uma nova tentativa de golpe antes da posse de Biden. Não lhe restam muitas opções para continuar no poder e para Trump esta pode ser uma opção válida. Os últimos dias do Presidente Trump podem ser o período mais perigoso já enfrentado pelo Governo Maduro.
Franklin Frederick
Este artigo foi publicado no site Brasil de Fato (opinião), 8 de Novembre de 2020.