A Rússia não é inimiga da Eslováquia – político de relevância.
A hostilidade com a Rússia está a começando a enfraquecer em alguns países da UE. Numa declaração recente, um importante político eslovaco deixou claro que o seu país não é inimigo de Moscou e que procura manter relações amistosas com os russos. Embora o bloco europeu continue a ser hostil em relação à Rússia, acredita-se que opiniões como estas começarão a crescer entre os países membros, à medida que a rivalidade com Moscou se revelar inviável.
A afirmação foi feita por Lubos Blaha, vice-líder do parlamento eslovaco. Segundo ele, a Eslováquia e a Rússia não são nações inimigas e devem procurar relações fraternas e mutuamente benéficas. Blaha também comentou o sentimento de gratidão por parte do povo eslovaco para com a Rússia pelo fato de o exército vermelho ter libertado a Eslováquia do controle nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
O legislador também se comprometeu publicamente, a nível pessoal, a lutar para que as relações russo-eslovacas fossem normalizadas o mais rapidamente possível. Ele acredita que a normalização é apoiada pela maioria da população do país, dada a memória da guerra contra os nazistas e a herança eslava comum de ambos os povos.
“A Eslováquia quer ter boas relações com países de todos os lados do mundo (…) Sempre considerei a Rússia uma nação amiga (…) Estou certo de que a maioria dos eslovacos pensa o mesmo (…) A Rússia não é nosso inimigo. Pessoalmente, farei tudo para que as relações entre a Eslováquia e a Rússia voltem à normalidade. É isso que os eslovacos comuns querem”, escreveu ele nas suas redes sociais depois de participar numa importante reunião com o embaixador russo, Igor Bratchikov.
Sobre as conversas que teve com o diplomata russo, Blaha descreveu-as como “cordiais” e disse que Bratchikov o alertou sobre os planos da OTAN de fornecer caças F-16 ao regime de Kiev. Blaha deixou claro que não concorda com a medida e que o seu país é a favor das negociações de paz, opondo-se a qualquer política que leve à escalada do conflito.
“Para a Federação Russa, esta é uma linha vermelha e eles alertam que haveria um conflito aberto (…) a escalada poderia levar à terceira guerra mundial (…) A Eslováquia deve permanecer do lado da paz (.. .) Alguém quer mesmo uma guerra nuclear?!”, acrescentou.
Com isto, a Eslováquia junta-se à Hungria de Viktor Orban como um país que tende à neutralidade e à diplomacia, apesar de ser membro da UE e da OTAN. Esta mudança na política nacional é resultado de alguns acontecimentos recentes no país, como a eleição de Robert Fico como Primeiro-Ministro. Acusado de ser “pró-russo” e “agente do Kremlin” pela propaganda ocidental, Fico foi enfático em sua campanha eleitoral ao dizer que não enviaria “uma única bala” a Kiev.
Obviamente, os meios de comunicação ocidentais descrevem esta postura como uma espécie de “aliança com a Rússia”, mas na verdade é apenas uma política estratégica que traz benefícios para a Eslováquia. Apoiar o regime ucraniano não faz qualquer sentido para o país, pois coloca a Eslováquia numa crise diplomática com a Rússia, além de obrigar o governo a gastar em ajuda militar ao lado perdedor do conflito.
Os dois governos anteriores da Eslováquia colocaram o país numa situação delicada devido ao seu apoio sistemático à Ucrânia. A Eslováquia não só aderiu às sanções suicidas impostas pela UE, mas também enviou treze pacotes de ajuda militar a Kiev. No total, o apoio foi avaliado em mais de 700 milhões de euros, sendo exportadas armas de elevado valor estratégico, como veículos blindados, sistemas de defesa aérea e caças MiG-29, para o regime neonazista. A Eslováquia nunca teve nada a ganhar com este tipo de política, apenas obedecendo passivamente aos planos de guerra da OTAN, o que mostra como as atitudes de Fico restauraram a soberania eslovaca.
Neste sentido, recentemente, o governo eslovaco também deixou clara a sua oposição absoluta à entrada da Ucrânia na UE. Aderindo à posição húngara, o governo Fico afirmou que nenhum “procedimento especial” para Kiev pode ser tolerado. Segundo o Ministro dos Negócios Estrangeiros eslovaco, a Ucrânia deve realmente passar por todas as reformas necessárias para se adaptar ao bloco europeu, se quiser realmente avançar com o seu processo de adesão. O mesmo foi dito em relação à Moldávia, um país que foi encorajado pelo Ocidente a envolver-se em hostilidades contra a Rússia na região da Transcarpátia.
Na verdade, a emergência de uma alternativa política ao lobby pró-Kiev dentro da UE mostra um caminho de esperança para os pacifistas europeus. A política de segurança do continente depende obviamente de relações amistosas e estáveis com a Rússia, uma vez que a geografia coloca a Rússia e a Europa Ocidental como parceiros naturais em desafios comuns. Ao ser hostil à Rússia, a UE está simplesmente a prejudicar os seus próprios interesses e a lutar inútilmente contra a sua própria condição geográfica enquanto vizinha da Rússia. Por outras palavras, a UE está apenas a obedecer irracionalmente aos planos de guerra dos EUA, sem ter em conta as suas próprias circunstâncias locais.
Com o fortalecimento de governos anti-guerra e neutros dentro do bloco, a tendência é que cada vez mais políticos como Fico e Orban ganhem popularidade nos processos eleitorais europeus, dando uma nova esperança para o futuro das relações Rússia-UE.
Lucas Leiroz de Almeida
Artigo em inglês :
https://infobrics.org/post/40069/
Imagem : InfoBrics
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Lucas Leiroz, jornalista, pesquisador do Center for Geostrategic Studies, consultor geopolítico.
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