A aliança atlântica : a verdadeira agenda de Obama

O objetivo principal da visita de Obama na Europa – declara Susan Rice a qual é conselheira para a segurança nacional – é o de “pressionar para uma unidade ocidental” frente a “invasão russa na Criméia”.

O primeiro passo será reforçar ainda mais a OTAN. Essa aliança militar que, abaixo do comando dos Estados Unidos, englobou, de 1999  a 2009, todos os países do ex-pacto de Varsóvia, três da ex- União Soviética, e duas ex repúblicas da Iugoslávia, (destruida com a guerra da OTAN;  essa aliança que colocou suas bases e forças militares, inclusive aquelas de capacidade nuclear, sempre mais ao redor, e para perto da Rússia, armando-as com um “escudo anti-míssel”, que é um instrumento não de defesa mas de ataque; essa aliança que penetrou na Ucrânia, organizando o golpe de Kiev, incitando dessa maneira a Criméia a separar-se da mesma e unir-se a Rússia. “O cenário geopolítico está mudando”, anunciou o secretário geral da OTAN: “Os aliados devem reforçor seus elos econômicos e militares frente a agressão militar russa contra a Ucrânia”. Projeta-se, entretanto, não só um reforçamento militar da OTAN para que aumente a “prontidão operativa e a eficácia no combate”, mas ao mesmo tempo uma “OTAN Econômica”, através do “acordo do comércio livre USA-UE”, funcional ao sistema geopolítico ocidental, dominado pelos Estados Unidos.

Uma OTAN que, ressalta Washington, “continuará sendo uma aliança nuclear”. Significativo aqui é que a visita de Obama a Europa tenha começado com o terceiro cimo sobre a segurança nuclear. Uma criação do próprio Obama (não pelo Prêmio Nobel da Paz), mas para “pôr em segurança o material nuclear, e prevenir assim um terrorismo nuclear”. Este objetivo nobre é então perseguido pelos Estados que tem 8.000 ogivas nucleares, dos quais 2.150 prontas para lançamento, as quais se acrescentam ainda as 500 francesas e britânicas, o que leva ao total da OTAN, outras 2.500 prontas para um lançamento, isso sendo então frente as das cerca de1.800 russas. Esse potencial foi agora aumentado pelo fornecimento do Japão aos Estados Unidos de outros 300  kg. de plutônio assim como de uma grande quantidade de urânio enriquecido, adaptado para a fabricação de armas nucleares, ao quais se ajuntam então os 20 kg  por parte da Itália. Israel também participa no cimo da “segurança nuclear” —  Israel, a única potência nuclear no Oriente Médio (não aderente ao Tratado e não-proliferação) — que possui até 300 ogivas nucleares e produzindo tanto urânio que daria para fabricar a cada ano, 10  a 15 bombas daquela do tipo de Nagasaki. O Presidente Obama contribuiu em particular para a  “segurança nuclear” da Europa, ordenando que cerca de 200 bombas B-61 instaladas na Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Turquia (violando o Tratado de não-proliferação) fossem substituídas por novas bombas nucleares B61-12, com guia de precisão, projetadas particularmente para o caça F-35, incluindo-se aqui então também aquela anti-bunker [casamata- abrigo em betão] para destruir os centros de comando num primeiro ataque nuclear.

A estratégia de Washington tem um objetivo duplo. De um lado redimensionar a Rússia, que relançou a sua política exterior – (v. papél desenvolvido na Síria) –  reaproximando-se da China, criando uma potencial aliança capaz de contrapor-se a superpotência estadunidense. Pelo outro lado o seu objetivo seria o alimentar na Europa um estado de tensão que permitiria aos Estados Unidos de manter, através da OTAN, a sua liderança sobre os aliados, os quais são considerados basicamente em diferentes escalas de valores: com o governo alemão Washington inclina-se a dividir a área de influência, com o italiano (“nosso amigo mais precioso no mundo) ele se limita a dar umas palmadinhas nas costas, sabendo que sempre poderá conseguir o que deseja…

Ao mesmo tempo Obama pressiona seus aliados para que reduzam a importação de gás e petróleo russo. Não é um fácil objetivo. A União Européia depende por cerca de 1/3 do fornecimento energético russo: A Alemanha e a Itália por 30%. A Suécia e a Romênia por 45%, a Finlândia e a República Checa [ex-parte da Checoslováquia] por 75%, a Polônia e a Lituânia por 90%. A administração Obama, escreve o New York Times, segue uma “estratégia agressiva” que tem em mira a redução do fornecimento energético russo à Europa: a administração de Obama prevê então que a Exxon Mobil, e outras companhias estadunidenses, poderiam fornecer uma crescente quantidade de gás a Europa, aproveitando-se aqui das capacidades do Oriente Médio, da África assim como de outras partes, inclusive então dos Estados Unidos, do qual a produção está sendo aumentada o que permitiria aos Estados Unidos exportar gás liquefeito.

Nesse cenário aparece de novo a “guerra dos gasodutos”: o objetivo estadunidense sendo o de bloquear o Nord Stream – a Corrente do Norte, que leva à UE o gás russo, através do Mar Báltico, assim como o de impedir a realização do South Stream- a Corrente do Sul, que portaria esse gás à UE através do Mar Negro. Ambos evitariam a Ucrânia, através da qual passa hoje o grosso do gás russo, realização essa a qual é dirigida pela Gazprom, da qual fazem parte companhias europeias. Paolo Scaroni, número um da ENI, advertiu o governo que se o projeto da Corrente Sul fosse bloqueado, a Itália iria perder um importante e rico contrato, como uma emtrepenagem de 2 bilhões de euros, que a Saipem tem atribuída a si para construir o trecho submarino do mesmo. É necessário aqui entretanto ter em conta também as pressões dos Estados Unidos.

De qualquer maneira o presidente Obama se dedica também a obras de beneficência. Com o Papa Francisco ele falará amanhã “no objetivo comum de combater a pobreza e a crescente desigualdade”. Ele, que durante sua administração fez a frequência da pobreza nos Estados Unidos subir de 12% a 15% (outros 46 milhões de pobres) e a  pobreza infantil subir de 18% ao 22%, enquanto os superricos (o 0.01 % da população) quadrupiclaram o seu rendimento. Obama também “agradecerá ao papa pelo seus apelos a paz”. Ele, presidente de um país que expende, em armamentos e guerra, o equivalente a cerca da metade do expendido mundialmente.

Manlio Dinucci

Tommaso Di Francesco

Editição de quarta-feira 26 de março de 2014 de il manifesto

Artigo original : Il pacco atlantico, il manifesto, de 26 de março de 2014.

Tradução Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.compara mondialisation.ca


About the author:

Manlio Dinucci est géographe et journaliste. Il a une chronique hebdomadaire “L’art de la guerre” au quotidien italien il manifesto. Parmi ses derniers livres: Geocommunity (en trois tomes) Ed. Zanichelli 2013; Geolaboratorio, Ed. Zanichelli 2014;Se dici guerra…, Ed. Kappa Vu 2014.

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