Para sair da guerra, é necessário sair da NATO

Teve início na Europa, o processo de criação de um movimento específico contra a guerra e, ao mesmo tempo, de orientação anti NATO e pode ser posto em prática.

A Conferência Internacional dos membros de organizações sem fins lucrativos (não-governamentais), realizada em Abril deste ano, em Florença, Itália, poderia permanecer fora do horizonte das personalidades políticas e governamentais, bem como dos representantes da comunicação mediática, se não fosse uma série de circunstâncias muito significativas ligadas a ela.

A primeira e mais importante característica distintiva deste fórum, manifestou-se através do lema não habitual “NÃO à guerra, NÃO à NATO”, sob o qual foi realizada. Os participantes levantaram a questão de prevenir qualquer confronto militar no continente europeu e no mundo como um todo, tanto através do uso de armas nucleares como convencionais.

Foi lançado no fórum o seguinte apelo: criar um movimento de forças sociais e políticas na Europa que, à semelhança do grande movimento civil anti nuclear da década de 80, contribua para a eliminação da ameaça dos mísseis nucleares, pois que, nos últimos anos, o seu nível se tornou nitidamente elevado também nesta parte do globo terrestre.

Em particular, no continente europeu, juntamente com as armas nucleares dos EUA instaladas ali desde os anos 50, o Pentágono começou a enviar para o seu espaço aéreo, nos anos mais recentes, aviões estratégicos pesados capazes de transportar tanto mísseis de cruzeiro como bombas com ogivas nucleares.

A segunda particularidade do evento foi ter um caráter muito representativo: mais de 500 pessoas participaram nele, o que levou os organizadores a alugar o Odeon, um dos cinemas centrais da cidade, durante oito horas. Obviamente, o interesse foi elevado.

Participaram na conferência pessoas de quase todos os países europeus, incluindo cidadãos dos países membros da Aliança do Atlântico Norte. A fim de informar os participantes da reunião sobre a situação relativa à complicação adicional do processo de controlo de armas, em particular de armas nucleares, foram convidados na qualidade de oradores principais do evento, especialistas que lidam com essas questões. Entre os oradores também houve especialistas que estudam as consequências negativas da atribuição de despesas militares claramente excessivas aos países líderes da NATO, as quais impedem a elaboração de programas de desenvolvimento social e económico dos seus Estados membros e da comunidade europeia, no seu conjunto.

Por ocasião do 70º aniversário da criação da NATO, os organizadores da conferência prepararam e mostraram um documentário “Os 70 anos da NATO: de guerra em guerra”, que critica a política militar e os preparativos militares da aliança de “solidariedade transatlântica”, as suas enormes despesas militares e as tentativas de interferências políticas e de outro género, nos assuntos dos Estados soberanos, a fim de derrubar os órgãos legítimos do poder e da administração.

O filme mostra as intervenções dos Estados Unidos e de outros Estados, membros desse bloco militar, nos assuntos da Sérvia, da Síria e de outros países, e são apresentadas provas da interferência de Washington nos assuntos internos da Ucrânia através da organização de um golpe de Estado, em 2014. É criticada a instalação, na Europa, de armas nucleares e sistemas antimíssil dos EUA. É levantada a questão do encerramento de todas as bases militares dos EUA não só em Itália, mas também noutros países europeus. No filme, foi pronunciado o slogan: “Para sair das guerras, é necessário sair da NATO”.

No evento, o representante russo apresentou uma nova monografia intitulada ***”A evolução das armas nucleares estratégicas e táticas dos EUA e as características do seu uso no século XXI” (Moscovo, 2019, p. 1086). Também analisou a situação alarmante no campo do controlo de armas devido aos Estados Unidos, que mostraram e continuam a manter atitudes negativas em relação aos 12 tratados internacionais em vigor neste sector. Este caso é evidenciado pelo facto dos EUA terem repudiado unilateralmente alguns deles (em particular o Tratado ABM), ou recusado ratificar outros (por exemplo, o Tratado de Proibição Total de Ensaios Nucleares), ou violado as suas disposições (por exemplo, o Tratado INF sobre a eliminação de mísseis de médio e curto alcance), ou até mesmo se recusarem a discutir alguns deles em espaços de negociação internacional (por exemplo, o projecto do Tratado sobre Segurança Europeia).

Observou, com particular atenção, que metade desses tratados e acordos estão directamente ligados às armas nucleares, a saber: o Tratado sobre a Redução de Armas Ofensivas Estratégicas (Tratado START), o Tratado sobre a Eliminação de Mísseis de Alcance Intermédio e Curto, o Tratadode Não-Proliferação de Armas Nucleares, o Acordo Nuclear Iraniano, o Tratado sobre a Proibição Total de Ensaios Nucleares e o Acordo do Plutónio de Uso Militar .

Foi dada atenção especial da parte russa às repetidas violações do Tratado INF por parte de Washington quando, para verificar a eficácia do sistema de defesa antimíssil, foram utilizados mísseis alvo que são proibidos por este tratado.

A partir dos documentos oficiais do Congresso e do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, segue-se que, nas últimas duas décadas, tomando em consideração o uso dos mísseis alvo supracitados durante os ensaios, o Pentágono violou este tratado 117 vezes. A comunicação deste dado a um público tão vasto na Conferência de Florença não ficou nem ficará sem impacto e atenção, sobretudo, tendo em consideração o facto de que a Rússia nunca violou este Tratado INF e não foi a primeira a anunciar o seu repúdio.

Na “Declaração de Florença”, um documento conclusivo e aprovado, foi salientado que a NATO é uma organização sob o comando do Pentágono e que seu objectivo é garantir o controlo da Europa Ocidental e Oriental, que as bases militares dos EUA nos Estados membros dessa união militar, servem para ocupar esses países. A manutenção de uma presença militar permanente dos EUA permite que Washington influencie e controle as políticas dos países europeus e de outros países.

O documento final, que mais tarde foi traduzido em **15 idiomas, indica que a Aliança é uma máquina militar que trabalha para os interesses dos Estados Unidos com a cumplicidade dos principais grupos de poder europeus e é culpada de crimes contra a Humanidade. Neste contexto, foi mencionada a guerra agressiva desencadeada pela NATO, em 1999, contra a Jugoslávia, bem como as intervenções militares do bloco, realizadas em total violação do Direito Internacional, contra o Afeganistão, a Líbia, a Síria e mais alguns Estados.

Na declaração constata-se que, violando o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, os Estados Unidos estão a instalar armas nucleares em cinco países não-nucleares da NATO, sob o falso pretexto da existência de uma “ameaça russa”, o que coloca em risco a segurança no continente europeu.

Naturalmente, da declaração adoptada em Florença sobre a necessidade de dissolver uma aliança militar como a NATO e fortalecer o regime de controlo de armamentos, até serem alcançados resultados específicos nessas áreas, muitos esforços organizacionais, políticos, informativos e outros serão exigidos dos defensores da política de não-bloco e de saída da aliança. Afigura-se que o processo de criação de um movimento específico contra a guerra e, ao mesmo tempo, com orientação anti NATO começou e pode ser activado.

Vladimir Kozin

 

 

Vladimir Kozin é um dos principais especialistas do Centro de Estudos Político-Militares do MGIMO do Ministério das Relações Exteriores da Rússia

** De momento, disponível em 17 línguas.

*** A evolução das armas nucleares estratégicas e tácticas dos EUA e as características do seu uso no século XXI
Monografia/V. Kozin. –  Editora Sabashnikovs. 2019. – 1086 p., Com ilustrações

(ISBN 975 5-82420-163-5).

A monografia  explora de maneira abrangente a perspectiva da evolução das armas nucleares estratégicas e táticas dos EUA no séc. XXI em estreita conexão com as suas estratégias nucleares modernas e outras estratégias (segurança nacional, defesa nacional e antimísseis) adoptadas durante o período do Presidente Donald Trump. Uma ênfase considerável é colocada na identificação de características da modernização das armas ofensivas estratégicas americanas e das armas nucleares tácticas, incluindo a tríade nuclear estratégica qualitativamente nova, que existirá em quase todo o século. Nesse sentido, o ensaio histórico relacionado a questões seleccionadas é mínimo. Os problemas que as futuras negociações para reduzir as armas ofensivas estratégicas e as armas nucleares táticas podem enfrentar no contexto do fortalecimento do sistema de defesa antimíssil global e as forças de propósitos gerais dos EUA estão sendo consideradas. As características da violação pelo lado americano do Tratado START-3 e da eliminação do Tratado do INF. São analisadas diversas propostas sobre a limitação de armas ofensivas estratégicas e armas nucleares tácticas apresentadas por especialistas estrangeiros. É investigada a posição de Washington sobre a possibilidade de construir um mundo livre de armas nucleares em escala global.

A monografia destina-se a profissionais envolvidos no desenvolvimento de armas nucleares ofensivas e tácticas estratégicas dos EUA, no contexto da segurança global e da estabilidade estratégica, bem como àqueles que estudam as questões de controlo de armas e as relações russo-americanas em geral.


Articles by: Vladimir Kozin

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